«A minha vivência escutista marcou profundamente a pessoa que eu sou hoje em dia»

Raquel Ochoa é escritora e vencedora do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís. É também repórter de viagens, o que lhe permite conciliar a escrita com a mochila às costas. Foi escuteira durante 14 anos e reconhece que o Escutismo foi uma formação basilar na sua vida.

Flor de Lis: Quando começou a teu percurso no Escutismo?

Raquel Ochoa: Começou com o primeiro ano de lobita aos seis anos, fiz a carreira quase toda. Aos seis anos entrei para um agrupamento que era o mais próximo da minha casa, o agrupamento do Telhal, que veio a ser o agrupamento 752 do Algueirão (Região de Lisboa), mas que na altura estava mesmo na igreja do Telhal. As minhas primeiras memórias são lá! É um sítio muito peculiar porque é o Hospital do Telhal, que acolhe pessoas com saúde mental fragilizada, e até era um ambiente diferente entre crianças e convivíamos também com eles, com os utentes. Isso durou menos de um ano e passámos para a Igreja do Algueirão, que na altura passou a ser a Paróquia. Era um agrupamento muito interessante! Aliás, foi toda a nossa vida um agrupamento muito interessante, com pessoas muito interessadas e na altura fiz amigos que ficaram meus amigos para a vida, mantive amizades desde essa altura até hoje.

Depois passei para os Juniores (na altura chamávamos Juniores aos Exploradores), depois os Seniores (os Pioneiros) e depois nos Caminheiros. Estive nos Caminheiros no agrupamento do Algueirão, mas depois passei para o agrupamento da Damaia, por circunstâncias um pouco fora do normal, e já vim a fazer a promessa de Caminheira no agrupamento da Damaia. Fiz 14 anos de Escutismo. Saí aos 21 anos, estava prestes a terminar o meu curso e comecei a viajar. Foi uma altura em que eu me abri para o mundo, já tinha mudado de agrupamento, já tinha havido ali uma mudança grande… Nesse momento que eu resolvi sair e já não fiz a promessa de Dirigente.

Flor de Lis: Mesmo assim, nesses 14 anos, tiveste momentos que te marcaram, certo? Algum que te recordes mais especialmente?

Raquel Ochoa: Muitos! A minha vivência escutista marcou-me profundamente para a pessoa que eu sou hoje em dia. Não há a menor dúvida! Não só este núcleo de amigos, mas amizades que se tornaram! Eu tenho um bocadinho dificuldade em gerir as hierarquias, fiz amizades em todos os lados que fui, felizmente.. Mas não há dúvida que dos escuteiros são os meus amigos que eu hoje em dia ainda me continuo a identificar mais, isso é mesmo uma verdade! Não só a nível das minhas relações pessoais, sem as quais eu não saberia ser aquilo que sou, porque são mesmo estruturantes, como em termos de experiências, que foram sempre muito diversas: Nos lobitos foram umas, nos exploradores foram outras, nos seniores foram outras…

Nós nos Lobitos tínhamos muito aquela confiança nos guias, então o que eu me lembro mais dos Lobitos, até mais que os meus chefes, são os meus guias e sub-guias. Foi aí, por exemplo, que eu descobri o sentido de humor! Eu até aquela idade, até aos 7, 8, 9 anos, não sabia o que era rir à gargalhada com pessoas que, claro nós víamos como os mais velhos, eram os nossos heróis, com pessoas que me faziam estar sempre bem disposta, rir de mim própria. Havia muito aquela questão de através da troça nós nos conhecermos melhor uns aos outros, era um ambiente muito desafiante!

Isso é o que eu me lembro dos Lobitos, não só dos nós, da autonomia, de sair das saias da mãe, mas de olhar para os mais velhos e pensar: “- Meu Deus! Que inteligência!”, eram pessoas que nos desafiavam intelectualmente, logo nos Lobitos!

Depois nos Exploradores, tenho outras experiências muito diferentes. O nosso agrupamento tinha sérios problemas financeiros, portanto estamos a falar de eu entro para os Lobitos em 1986, e nos exploradores e pioneiros estamos nos anos 90, o parente pobre daquela paróquia eram os escuteiros, acontece em muitas! Por isso para ali não se canalizava nada. Nós gerávamos dinheiro com a venda dos calendários e com muitas outras atividades. Só que por exemplo, nós não tivemos tendas durante anos!

Flor de Lis: Como é que acampavam?

Raquel Ochoa: Com panos de tenda. Nós no Algueirão percorríamos muito a Serra de Sintra, era o nosso sítio habitual, íamos para o Marvão…. Acampávamos por muitos sítios por aí fora, mas claro que as minhas experiências que eu me lembro mais são na Serra de Sintra. Essa foi uma coisa que marcou muito: A autossuficiência. O andarmos no campo perfeitamente sem quaisquer preocupações! Era uma coisa que não se vê hoje em dia, esta confiança que se tinha de deixar os miúdos irem sozinhos e o guia, que era a pessoa que trataria da equipa, com a ajuda do sub-guia. Nós realmente encontrávamos os chefes no ponto final do raid e fazíamos raids que eram coisas altamente radicais! (risos) Eu hoje sei! Tínhamos a mania de fazer corta-matos, que era uma coisa mítica no nosso vocabulário! O corta-mato era sempre uma experiência que nos levava quase aos limites! Tínhamos muito a piada de “segunda-feira não vais de saia para a escola!”, porque vínhamos de lá todos cortados pelas silvas! O nosso grupo sempre levou as experiências muito ao extremo. Acampar por exemplo na falésia do Cabo da Roca, oura vez fomos para Dornes, e fizemos as nossas jangadas e descemos o rio – Isto já nos Pioneiros – Durante 3 ou 4 noites. As primeiras noites foram passadas a dormir numa zona inclinadíssima, portanto não conseguíamos dormir nos sacos cama na encosta, era num pedacinho que ali conseguimos encontrar, senão teríamos que passar a noite na jangada… Essa foi uma das mais interessantes, descer o Zêzere de jangada!

São essas as memórias que eu tenho! De chegarmos a casa como um pingo, completamente encharcados, de cantarmos imenso e de chegar sempre a casa sem voz, sempre afónica, e chegar a casa, tomar um banho e ter uma sensação de plenitude… Porque eram experiências que nos tiravam totalmente da zona de conforto, que depois quando voltamos para casa não só tinha sido muito rico em termos emocionais, porque de facto era um grupo muito unido, como nos levámos aos limites. Havia uma sensação de total descompressão e eu lembro-me perfeitamente de ir para a escola, e aquilo que normalmente naquela fase é excitante para os miúdos, para mim a escola era uma coisa totalmente aborrecida e totalmente básica. Eu olho para o passar dos anos, que correspondem aos escuteiros, e para mim a escola, apesar de eu ter lá também grandes amigos, era um ambiente muito inócuo, que não tinha nada de desafiante… Eu era boa aluna, nem aí me desafiava muito! Os escuteiros é que me desafiavam, é que eu dizia que me ia dar qualquer coisa nova. E é assim o meu percurso!

«Temos esse instinto quer seja a percorrer uma rua de Lisboa ou uma floresta na Costa Rica»

Flor de Lis: Achas que essas experiências te influenciaram para o resto da vida e definiram quem és hoje?

Raquel Ochoa: Sem dúvida! Influenciaram muito especificamente a viajante que eu sou. Eu entretanto comecei a viajar bastante, agora é que estou mais parada por motivos familiares, mas passei 20 anos de intensas viagens pelo mundo. Que depois também se tornou no meu trabalho: Tornei-me repórter de viagens, comecei a escrever livros sobre as minhas viagens, que começaram por plena curiosidade, mas as viagens é que vieram a desenvolver a minha atividade de escritora. Não há dúvida que essa experiência do Escutismo, vou ser escuteira para o resto da vida porque deixa uma formação basilar, eu levei isso para o mundo. E o mandamento “do escuta desenrasca-se” é claro que posto em prática. Uma coisa é saber que é um mandamento que em teoria é bom, outra coisa é termos de nos desenrascar muitas vezes, seja a fazer fogo, deixa a dormir ao relento! Quantas vezes dormimos ao relento! Nem mesmo com panos de tenda. Há por exemplo uma história no Marvão em que fomos acampar em pleno Inverno, não conseguimos chegar ao ponto de encontro porque o raid era muito exigente (Eu teria uns 12/13 anos), estávamos no meio do nada no meio da Serra de São Mamede, e tivemos que pedir a uns aldeões de uma casa muito isolada para dormirmos na casa deles. Nós ainda éramos um grupo de seis pessoas, rapazes e raparigas, e eles acharam aquilo muito estranho! Deixaram-nos dormir no estábulo com as vacas e os cavalos! Na altura estavam muito chocados por dormirmos todos juntos, mas dissemos que éramos todos primos e irmãos e éramos uma família. Foi assim que os convencemos (risos)! Foi uma noite em que choveu “canivetes” e nós sentimo-nos muito inteligentes por termos conseguido essa solução! No dia seguinte foram muito simpáticos, convidaram-nos para irmos tomar o pequeno-almoço na casa deles… Essa foi assim uma grande aventura!

Acerca de eu ser viajante, este mandamento de “o escuta desenrasca-se” eu levei isto para todo o lado! E o que esta formação basilar faz é que nós geremos um instinto que nunca mais se vai embora! Temos esse instinto quer seja a percorrer uma rua de Lisboa ou uma floresta na Costa Rica. Não tenho dúvida que isso me veio deste contacto com a natureza e este contacto social… Eu falei dos meus amigos, mas obviamente que a experiência escutista me fez conviver com todo o tipo de pessoas, inclusivamente pessoas com quem eu não me identificava tanto! Ou com quem me chateava ou que achava que não tinham os mesmos valores que eu. Essa experiência social também nos leva para o mundo com outra tolerância, com outra perspicácia, porque saber ler as pessoas é muito importante. Ao fim ao cabo, neste mundo onde vivemos, saber ler rapidamente as pessoas evita-nos muitos problemas, até para sermos agradáveis com os outros. E depois a experiência com a natureza, se somos muito novos e tomamos logo contacto com a natureza, nessa maneira tão íntima. Porque aquela coisa de desenrascarmo-nos à chuva para arranjar um teto, mas depois era preciso fazer o fogo a chover, onde é que encontramos a lenha seca? Como é que se cozinha? Aquele cheiro com que se volta para casa nas roupas imbuídas naquele fumo que nós próprios não nos conseguimos respirar, mas ao mesmo tempo é bom! Acho que a lição principal é gerarmos um grande respeito, é impossível não amar a natureza, e depois amá-la e contemplá-la com esses olhos em todo o mundo. Não tenho dúvidas que os escuteiros foram essenciais nisso.

Flor de Lis: Fala-me um pouco do teu percurso profissional. Começaste a viajar e tornaste-te repórter de viagens, e depois? Como é que surgem os livros na tua vida?

Raquel Ochoa: Eu tive umas primeiras viagens que me marcaram muito. Fiz primeiro uns interrails que me marcaram muito e foram muito importantes, aos 20 anos faço o primeiro, aos 21 anos faço o segundo, e foi nessa altura que decidi sair dos escuteiros. Está muito ligado: No fundo a aventura dos escuteiros foi substituída pela aventura das viagens. Foi como eu senti na altura e como continuo a sentir!

Depois tive duas viagens muito marcantes, uma primeira ida à Índia e uma segunda ida à Índia em 2001/2002. Em seguida, fiz uma viagem em 2004 à América do Sul, sozinha, durante seis meses. Tudo isto se relaciona com os escuteiros, é ir de mochila às costas! Há pessoas que só descobrem a mochila às costas quando começam a viajar e se tornam o conhecido “mochileiro”, não é? Eu já era mochileira desde os 6 anos! Aquela mochila com os ferros espetados, vermelha! A minha era linda! O que eu andei com ela e o que me magoou as costas! Mas na altura era uma sofisticação…

Portanto, a ideia de ir de mochila às costas descobrir o mundo, eu já estava muito confortável com isso, só faltava mesmo o mundo, porque em Portugal já tinha feito isso de lés a lés. Faltava também ir sozinha… Esse desafio para mim era mesmo o despir a pele do adolescente e entrar na pele adulta. São experiências tão fortes que eu achei que tinha uma história para contar.

Eu sempre gostei de escrever. Fiz o curso de Direito, agora já digo isto sem problema, como por falta de imaginação, aliás como muita gente! Que era para onde se ia quando se tinha esta inclinação mais para as letras e não se via mais nada. Não tinha se calhar uma tendência para a Psicologia, ou para a História. O meu pai era advogado então achei natural ir para Direito. Claramente que me apercebi no curso que aquela não era a minha vocação… Mas qual era a minha vocação? Era uma pergunta que eu me fazia, mas que realmente só tive a resposta anos mais tarde com as viagens. A minha vocação era esta: Escrever. Estava um pouco escondida, porque eu sempre escrevi mas nunca pensei escrever para os outros. Hoje em dia muito miúdos já começam a perceber cedo que gostam de escrever para os outros também por causa das novas tecnologias e redes sociais, eu não.

Eu só percebi que tinha essa vocação e vontade quando tive as histórias das viagens para escrever. É quando faço a minha viagem à América do Sul que vim com uma grande história para contar, não só toda a cultura e tudo o que presenciei, que me parecia fascinante para contar, como eu tinha acordado para muitas questões. Eu desenvolvi-me muito, eu superei muitos obstáculos. Essa era a história que eu queria contar e que acabei por escrever no livro “O vento dos outros”. É a escrever esse livro, que é o meu primeiro livro que publico em 2008 mas que escrevo alguns anos antes, que eu me apercebo que adorava fazer aquilo e que me sentia a fazer aquilo o resto da minha vida. Estava encontrava a minha vocação! Não sei se assim será, mas continuei estes anos todos e a partir daí não só escrevi relatos de viagens como me desafiei a escrever bibliografias e para o romance e não ficção. Escrevi vários romances históricos e, portanto, os livros surgem assim! Os livros são uma avalanche dentro de mim!

Ao mesmo tempo foi muito natural. Assim que percebi e decidi que era uma experiência que me deixava muito gratificada, porque de facto há um renascer em mim cada vez que escrevo um livro! É muito difícil, mas quando supero o desafio e acabo (…) é uma realização suprema! É assim que surge. Claramente hoje identifico-me como escritora, continuo a escrever, vou publicar no início do próximo ano o 10º livro. Continuo sempre a ensinar-me, cada livro que escrevo é quase um doutoramento que faço!

Flor de Lis: Em algum dos teus livros pensaste contar o que viveste no Escutismo?

Raquel Ochoa: Já mencionei várias histórias e vivências, neste último livro o “Pés na Terra”, que é bibliográfico, faço uma ode aos escuteiros, mas um pouco ao de leve. Mais profundo, a resposta é sim. Já pensei nisso, até já pensei escrever sobre certas pessoas que ali conheci, que continuo a acompanhar e que têm percursos realmente de filme! (risos) E para o qual tem que haver um livro primeiro! Ainda não me senti preparada, mas é muito natural que eu revisite esses primeiros tempos do Escutismo ativo.

Flor de Lis: Que mensagem deixarias aos jovens que agora ainda não sabem muito bem que percurso seguir na vida e que têm receio de dar algum passo importante?

Raquel Ochoa: A minha melhor amiga com 13 anos discutiu com o pai e decidiu ir para os escuteiros. Portanto, tornou-se a minha guia nos Exploradores. A decisão dela era uma coisa que lhe vinha de dentro, precisava de ir para os escuteiros e realmente depois veio a marcar imenso a vida dela.

Acho que se alguém tem o bichinho de ir para os escuteiros, deve fazer de tudo para ir! Para já é uma família para a vida, nem todas as pessoas se dão bem nos escuteiros, como sabemos, há sempre pessoas que não se integram por um motivo ou por outro. Mas acho que a maioria encontra ali uma família, e porque não ter uma segunda família? As experiências que vão ter não terão nada a ver com o que se vive na escola, na universidade… Quando alguém diz “Ah, os melhores anos que vive foram na universidade!”. É sempre uma experiência urbana, por mais intensa que seja nunca poderá ter a profundidade que os escuteiros podem dar.

Eu sei que os escuteiros estão muito diferentes – Qualquer dia chega a altura das minhas filhas! (risos) e vamos lá ver o que os escuteiros de hoje em dia oferecem – mas eu acho que os escuteiros são sempre uma boa forma de nós, enquanto jovens, nos conhecermos melhor. Quando deixamos de ser criança acabámos de aterrar no planeta Terra. Quando somos crianças andamos ali a ser controlados pelos outros e, quando chegamos à pré-adolescência, é quando começamos a ter o mínimo de controlo na nossa vida, nas nossas emoções, e é fantástico fazer essa caminhada com pessoas que são iguais a nós, que são equivalentes e que nos vão dar espelhos importantíssimos.

Digo de novo o que disse no início, é fantástico encontrar sentidos de humor diferentes! Se há coisa que me lembro dos escuteiros é que passávamos o tempo nos escuteiros a rir! Os escuteiros dão-nos a possibilidade de nós sermos quem nós somos, e depois geram-se ali ambientes com dinâmicas muito particulares e nem sempre é fácil,  porque a vida nunca é fácil. Mas tenho a certeza que as crianças quando vão para os escuteiros se tornam mais seguras, porque os escuteiros são mais seguros, lá está: São obrigados a viver experiências muito diferentes do habitual, e isso torna-os mais vivos, mais inteligentes.

Flor de Lis: O CNE comemora 100 anos de existência. Qual é a tua opinião sobre o papel que o CNE desempenha na sociedade?

Raquel Ochoa: O CNE é um projeto muito específico, porque está ligado à Igreja, e para além de serem escuteiros, são escuteiros que têm fé e que também têm ali uma certa obrigação com a fé cristã.

No meu tempo, isso gerou alguma fricção, porque nós escuteiros queríamos ser muito mais livres do que a Igreja nos queria permitir. Eu acho que é muito importante que os padres das paróquias entendam muito bem o que é o Escutismo e o que pode ajudar na formação das crianças. Não pode ser uma catequese, porque não tem nada a ver. O Escutismo é para uma criança mais sedenta do mundo, e da noite e do dia, com tudo o que têm para dar. O que não quer dizer que não seja uma criança extremamente educada e que tenha na mesma a sua fé. A fé que irá projetar nas estrelas, no fogo conselho, nas construções… Vai ser uma criança muito mais livre do que uma criança que à partida não seja escuteira, que não tenha essa experiência de liberdade, da natureza. É portanto isso que eu tenho a dizer destes 100 anos: O Escutismo começou não ligado a uma Instituição, como sabemos muito bem, na ilha de Brownsea. A Igreja foi uma excelente aliada, e eu fiz toda a minha vida a minha caminhada nos escuteiros com muito orgulho, porque também sou crismada e também tenho o meu percurso na Igreja, mas é muito importante que sejam aliados, que andem par a par, mas que os escuteiros tenham uma certa liberdade, que possam também participar em tudo o que a Comunidade precisa, mas que possam ao mesmo tempo serem livres para terem os seus momentos.

De desafios para o futuro, o CNE deve continuar sempre a acolher todas as crianças, porque é uma organização que recebe pessoas de contextos sociais totalmente diferentes. Hoje tenho amigos totalmente diferentes, de contextos socioeconómicos totalmente diferentes, isso enriqueceu-me imenso… Isso é o que o CNE faz, a forma como mistura as pessoas irá tornar uma sociedade muito mais tolerante, como nós queremos. A escola já não faz tanto isso! A verdade é que os agrupamentos do CNE fazem isso com mestria… E deve continuar a dar às crianças motivos para sonhar, para se sentirem novamente capazes e seguras. Porque estão fora do seio familiar, porque percebem que são capazes de serem cada vez mais independentes. Isso tem um valor inestimável! Muitas crianças chegam hoje quase aos 18 anos e aí é que conseguem perceber que podem cozinhar, que podem passar noites fora sem os pais… Esse empurrão que o Escutismo dá é fabuloso!

Texto: Cláudia Xavier

Fotografias: Fernando Dinis, Raquel Ochoa

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