A linha editorial que marca a Flor de Lis

A linha editorial da Flor de Lis seguiu a evolução dos tempos, adaptando os conteúdos e grafismo a cada uma das épocas que atravessou. São 100 anos de um caminho construído por vários rostos, que trouxeram a revista até à atualidade.

A linha editorial de uma publicação reflete um conjunto de princípios, valores e diretrizes que definem a produção de conteúdos de um meio de comunicação. No caso da Flor de Lis do Corpo Nacional de Escutas (CNE), a linha editorial foi alterada ao longo dos seus 100 anos, tendo em conta as orientações dos vários rostos que assumiram a produção da revista que é publicada ininterruptamente desde 1925. 

Contudo, apesar das suas adaptações, a Flor de Lis sempre refletiu nos seus conteúdos a vivência da associação, desde o escutismo local, regional ao nível nacional, de acordo com o respeito pela Lei e Princípios do movimento escutista. Assim sendo, a Flor de Lis sempre assumiu uma posição de promoção da educação global de crianças, jovens e adultos, de ambos os géneros, através do método educativo do Escutismo.

A Flor de Lis é assim a revista mais antiga a ser publicada em Portugal, que acompanhou os progressos do CNE e que se adaptou aos tempos e aos interesses dos seus leitores, traçando um caminho até aos dias de hoje. 

Em 1925 a Flor de Lis é lançada como um boletim oficial, muito focado em texto e divulgação de informação. Uma novidade no CNE, que surgiu para colmatar a lacuna que existia, numa época em que a associação estava em plena ascensão, e informar era primordial. Neste começo a Flor de Lis tinha quatro páginas, uma periodicidade quinzenal e, segundo o seu primeiro número, pretendia que a sua publicação levasse aos escuteiros «o pensamento e a direção das entidades à frente dela e que se encontram e os façam sabedores de tudo o que de mais importante se passa na grande família que já hoje somos».

Nas décadas 20 e 30 a revista inclui os Atos Oficiais do CNE e a sua linha editorial mantém o foco nos conteúdos informativos, como as notícias das atividades, informações relevantes da associação, o correio dos leitores e um editorial do diretor. Apresenta a rubrica “Pelo mundo Scout”, com informações sobre o escutismo em outros países e destaca uma área mais lúdica para ser aplicada nas atividades, com músicas, jogos e peças de teatro com vários atos.

À semelhança de outras publicações em Portugal, os conteúdos foram visados pela comissão de censura e os primeiros anos dedicados à luta contra os custos de produção, o que levou a que em 1936 a revista passasse a incluir publicidade.

Em Janeiro de 1945 dá-se a viragem crucial na linha editorial da Flor de Lis, que passa a ser uma revista de 18 páginas, com capa, índice, e a incluir conteúdo estruturado: Notícias, Secção Alegre (Com anedotas e histórias), músicas e efemérides escutistas. Continua a incluir publicidade e passa a ser de periodicidade mensal, com publicação regular.

Nos anos seguintes este novo layout mantém-se e continua a falar-se dos custos topográficos da sua produção. A solução passa por aumentar o número de assinantes e, em todas as edições existe esse apelo, sendo que em 1947 é lançado um concurso de assinaturas da Flor de Lis, com o custo de 15$00 por cada revista, quantia que poderia ser enviada em selos. Em 1948 existe o desejo de aumentar o número de páginas da revista para 32, para que fosse possível incluir mais informações da associação, cada vez mais necessária. De modo a suportar esses custos, é então lançado um pedido de ajuda ao CNE para que se aumente o número de assinantes da Flor de Lis.

Com uma linha editorial estável, o fim da década de 70 marca mais uma mudança na Flor de Lis. A revista surge em janeiro/fevereiro de 1979 em número duplo, com um formato mais reduzido e com uma capa a cores, com mais páginas, com um suplemento destacável e anúncios de página completa. Entrevistas e conteúdos noticiosos marcam esta mudança numa revista em que se comunica cada vez mais de forma profissional.

A década de 80 traz consigo uma Flor de Lis com imagens destacadas e uma paginação mais limpa, com menos texto por página e de textos de fácil leitura para os seus assinantes. Em janeiro de 1985 é feito o apelo para que se forme uma equipa de «jovens escuteiros interessados no jornalismo. Todos juntos procuraremos ser a redação certa para os 60 anos da Flor de Lis, aquela que o movimento exige». Em março desse mesmo ano, o diretor à época, João Teixeira, refere que a linha editorial deve ser definida pelo diretor porque «cabe ao diretor – apoiado pela redação – dar a orientação da revista, criar o seu estilo, o seu figurino»-

Uma revista digital e de proximidade

É referido ao longo dos vários anos de publicações da Flor de Lis que a revista é um órgão oficial do CNE e não da Junta Central e que se pretende comunicar com os assinantes e pede-se a colaboração de todos com novos conteúdos, como fotos e notícias dos agrupamentos e regiões. Em 1986 é lançada a primeira banda desenhada, “O agrupamento de vila nova da perdigota”, que marca uma linha editorial mais descontraída e de proximidade.

Em fevereiro de 1987 a revista Flor de Lis celebrou os seus 62 anos com um arranjo gráfico dinâmico, aliado à criação de novas rubricas, viradas para o campo da animação de atividades, técnica escutista e defesa do meio ambiente, valores intrínsecos ao escutismo.

A década de 1992 não foi exceção em relação a novidades na linha editorial da revista, com destaques na primeira página, seguidos de um sumário. Em 1999 surgem as conhecidas páginas destacáveis das secções, Uivo, O Kim, Rota Azul e A Chama.

Os anos 2000 trazem consigo um novo grafismo, mais atual e adequado à época. Entre os novos conteúdos estava a “foto do mês”, com um convite direto para que os escuteiros enviassem as suas fotos de atividades para que fossem destacadas nas edições da Flor de Lis.

A revista «rejuvenesce, atira-se ao futuro, abre caminhos ao exterior do universo escutista e vai a cada assinante, a cada leitor, pedir-lhe que partilhe experiências, ideias, opiniões, desenhos, fotografias, esboços que sejam, de projetos de atividades, desenhos feitos ou não realidade». Indica o diretor da época José Carlos Santos, em abril de 2001. É lançada, por exemplo, a rubrica “Cromos”, de autoria de Pedro Mendes, com caricaturas das mais diversas tipologias de escuteiros e dirigentes.

Os próximos anos são marcados pela inovação nos conteúdos, com o alargamento de colaboradores voluntários regulares responsáveis pela cobertura de várias atividades nacionais e regionais. O lançamento do site “Flor de Lis Online” trouxe consigo um jornalismo de proximidade e uma instantaneidade de divulgação de atividades e acontecimentos no CNE e surgiu como um apoio complementar aos conteúdos produzidos pela revista. Mais recentemente, a digitalização da revista, que permite escolher entre a versão digital ou versão em papel, é um ponto de viragem na linha editorial da Flor de Lis, com a adaptação dos conteúdos a assinantes habituados à era digital que vivemos.

Os próximos anos trazem consigo novos desafios de comunicação à revista, que nos seus 100 anos assistiu à evolução dos tempos, com linhas editoriais adaptadas a cada um desses momentos e que continuará a adequar a sua linha editorial, o seu grafismo e conteúdos no futuro.

Texto: Cláudia Xavier

Fotografias: Gonçalo Pinto

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