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Mudaram-se os tempos, manteve-se a vontade de Servir as crianças e jovens. Entre 1974 e 1975, em pleno Processo Revolucionário Em Curso, a Flor de Lis adquiriu um direito fundamental: a opinião livre.
O fervor da mudança chegou sorrateiramente às páginas da Flor de Lis na sua edição de junho de 1974. O editorial responde sucintamente a «dúvidas» que surgiram sobre o teor do Movimento Escutista no rescaldo da Revolução dos Cravos, explicando o momento de fundação do CNE, a sua filiação internacional e a participação dos jovens na associação, onde se reitera que esta adesão é livre. Mais adiante, lê-se um artigo sobre uma atividade de corrida de jangadas adiada em Coimbra devido à «agitação do movimento político». Pela «confusão que muita gente fazia e faz, entre Escutismo e Mocidade Portuguesa», temia-se que «alguém se lembrasse de levantar umas “bocas” e provocar o desencadeamento de agressões em massa». Na última página, em arquivo sob um título rasurado, encontram-se os telegramas enviados ao Presidente da República, o General António de Spínola, e a membros do 1.º Governo Provisório pelo Chefe Nacional, D. José de Lencastre, saudando-os em nome do CNE.
Já em pleno processo revolucionário, o número de julho/agosto de 1974 marcou uma viragem na nossa redação. As nossas páginas, que já não precisavam de temer o lápis azul da censura, abriram-se às opiniões de quem as quisesse partilhar. Na terceira página, era dado o mote que inaugurou a nova era da Flor de Lis, livre e aberta à colaboração de todos: «Nesta hora alta do CNE, hora de renovação, a Flor de Lis também quer remodelar-se. Para isso será necessário que não só todos os elementos do CNE a leiam como também que colaborem. As páginas da nossa revista estarão sempre abertas a todos, mesmo que alguma coisa não esteja de acordo com as suas directrizes.»
Fora nessa edição que se noticiara a demissão da Junta Central no Conselho Nacional de 7 de julho de 1974, em Fátima, e subsequente nomeação de uma Comissão Executiva provisória, encarregada de consultar todos os Dirigentes sobre as alterações a fazer aos estatutos, elaborar o processo eleitoral e promover eleições, garantindo que se mantenha o CNE como obra da Igreja, na prática do método escutista e ao serviço dos jovens. A propósito deste Conselho Nacional, João Teixeira, à data Caminheiro, inaugurou o espaço de opinião desta Flor de Lis livre e renovada. Sem medos, escreveu o artigo «Como eu vi o Conselho Nacional 74», condenando fervorosamente quem se posicionava em defesa dos seus interesses pessoais, em vez de colocar o bem dos escuteiros em primeiro lugar: «Quando votais, por quem o fazeis? Pelos vistos, por vós… E os Rapazes? E o Escutismo? Esses são quem devem ser representados e defendidos. É por eles que se deve lutar. É por eles que se deve votar. É por eles que vós existis e NADA mas NADA mais!!!» Ademais, apelou à democratização das estruturas do CNE e pediu a eleição urgente de Chefes Regionais, seguindo o exemplo da Região de Lisboa.
O Conselho Nacional deu azo a mais um artigo nesta edição, que se tornaria polémico. Victor Touricas procurou reportar os acontecimentos do Conselho em Fátima, escrevendo que foram «dois dias de trocas de palavras onde se discutiu a ascensão a cargos de nível nacional e se esqueceu plenamente os problemas dos rapazes». Mais adiante, denunciou o comportamento dos Dirigentes, que discutiram «rancores pessoais» e «lutaram por um poleiro, dizendo mal de outros quando não presentes, e quase bajularam quando na sua presença». A primeira resposta a este artigo chegou no número de setembro de 1974. Tarcílio Rodrigues é o autor do artigo «A Terceira Visão», em que se declarou o principal visado das palavras de Victor Touricas e alegou que fora insultado por uma «tendenciosa interpretação» dos factos. Procurando restabelecer a verdade, anexou ao seu artigo a ata que o próprio escrevera acerca do Conselho Nacional para a circular mensal Contacto da Região de Lisboa. Em novembro de 1974, ainda iria correr mais tinta sobre esta polémica. A Flor de Lis publicaria o artigo de José Santos, pela Junta Regional de Lisboa, onde escreveu que o texto de Victor Touricas era demagógico, não correspondia à verdade, deixava dúvidas a quem o lesse, disparava críticas sem alvos claros e defendia uma posição «divisionista» face à Comissão. José Santos estendeu a crítica à Flor de Lis, relembrando que deve ser um instrumento de informação, objetividade e verdade. Ora, Henrique Alegria, à data Chefe de Redação da Flor de Lis, escreveu em nota de rodapé que se haviam publicado vários pontos de vista acerca do Conselho Nacional para marcar a abertura da revista a novos entendimentos e lembrou os leitores, procurando evitar novas polémicas nas páginas da revista, que os interesses do Movimento se devem sobrepor aos interesses pessoais.
Firme na abertura ao diálogo e à liberdade de opinião, a Flor de Lis passou a incluir peças também de foro político. Foi publicado no número de setembro de 1974 o artigo «O CNE e a actuação política», de J. Luz Carmo, que expõe «a reacção ao progresso, o medo da mudança» nas estruturas pedagógicas e religiosas do CNE e advoga pela educação política dos jovens no Escutismo: «A apoliticidade do Movimento não implica, antes pelo contrário, o alheamento da problemática política no trabalho das unidades. (…) Mantendo quanto possível a isenção é seu dever não permitir que o escutismo viva afastado da realidade em que todos estão mergulhados.» Já em janeiro de 1975, Ivan Myhu assinou o artigo «Escutismo Cidadela de Revolta?», no qual faz um impetuoso apelo à mudança, à participação política ativa e à ação transformadora dos escuteiros: «O Escutismo deve-se revoltar contra a falta de humanidade e contra as instituições ultrapassadas, (…) se ele próprio, Escutismo, não quer ser uma dessas caducas instituições.»
É nesta recém-descoberta liberdade de imprensa que João Teixeira escreveu o editorial do número de janeiro de 1975, celebrando a conquista de um tom «mais realista e desassombrado, sem medo do papão “censura”», «ao serviço dos culpados de toda esta luta – os Rapazes». O caminho que se trilhou rumo à democratização foi sinuoso, por entre o afastamento dos obstáculos de outrora e a aprendizagem do que é percorrer uma estrada completamente aberta, onde tudo é possível. Em verdade, «mudaram-se os tempos», mas a vontade de Servir os jovens mantém-se intocada.
Este e os próximos capítulos da nossa viagem no tempo às páginas da Flor de Lis abordam momentos da História recente que se refletiram no órgão oficial do CNE. Sempre atenta ao que se passa no mundo fora da sede, a nossa redação procura trazer aos assinantes da Flor de Lis conteúdos atuais e fieis aos princípios da cidadania ativa e consciente.
Texto: Catarina Valada.
Imagem: CNE.
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