O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou o campo do 23.º Acanac e falou à Flor de Lis no final de uma visita em que esteve em contacto com os milhares de escuteiros que nesta altura se preparam para iniciar este acampamento para fazer um balanço da sua visita.
O que é que o Presidente da República, e o mesmo será dizer, o país
espera dos escuteiros?
Não é por acaso que o Presidente da República aqui está. E tenciono regressar durante o meu mandato, sempre que haja, não direi uma realidade tão grandiosa como esta, porque esta é única até agora, mas pelo que há pouco me diziam, há mais de 40 anos que nenhum presidente da República vinha a um acampamento vosso. Estar aqui é uma homenagem do país, de todos os portugueses, ao escutismo católico em Portugal.
Significa, por um lado, homenagem ao espírito que é único, que vem de Baden Powell e que é um espírito de disponibilidade, de serviço, de dedicação
no fundo, de sentido coletivo, de integração comunitária, além da realização integral da pessoa.
Sempre com a ligação à Igreja Católica
E porque católico, por maioria de razão
porque aí, o dever de formação e de serviço dos outros é mais forte, como a sua projeção comunitária é mais responsável. O Presidente da República veio aqui agradecer aquilo que foi uma obra que começou em 1923 e que não parou e continua virada para o futuro, que percorreu muitas e muitas gerações de portugueses e portuguesas, e vai percorrer. Esta é uma expressão muito eloquente disso, pelo número, pela representatividade nacional, pela presença solidária que nos vem do estrangeiro, pela organização, pelo acolhimento.
Está aqui comigo o senhor Presidente da Câmara, e Idanha-a-Nova soube acolher de uma forma muito amiga e fraternal, e depois, pelo estado de espírito de todos
e eu acabo de perfazer três horas de contacto com milhares de escuteiras e escuteiros, e realmente é muito impressionante ver a sua alegria, o seu calor, o seu espírito solidário, a sua ideia de grupo no bom sentido do termo, portanto tudo aquilo que faz um grande escuteiro, como faz um grande português, e faz um grande católico.
Abraça o Futuro
a defesa da Casa Comum
vê nestes jovens a reserva de esperança que permite encarar o futuro com otimismo?
Mas é isso mesmo, há aqui uma esperança
não é por acaso que a ideia chave desta atividade é Abraçar o Futuro, abraçar o futuro em todas as suas dimensões, a nível global abraçar o planeta, abraçar a natureza, pensar naquilo que é o diálogo entre gerações, mas abraçar também a comunidade mais próxima, abraçar o país, abraçar a comunidade que começa na família e continua na comunidade local
e esse respeito pela natureza, esse respeito pelo outro, que são inseparáveis, fazem muito parte da lógica desta grande iniciativa nacional que, como tal, não podia deixar de ter a presença do Presidente da República.
Também há muitos adultos no escutismo. O que é que o presidente lhes sugere na missão que desempenham?
Eu acho que os adultos vão ser escuteiros até ao fim da vida, e nessa medida não vão envelhecer. Eu não sei, em relação ao escuteiro, como é possível fazer a distinção entre os mais jovens e os menos jovens
o verdadeiro escuteiro nunca fica menos jovem, nunca envelhece senão não é um bom escuteiro. Portanto, aqueles que eu aqui encontro, às vezes pergunto-lhes baixinho, não direi a idade, mas há quantos anos andam nesta aventura
eles vão-me dizendo há quantas décadas isso se passa, mas estão aqui como se fosse a primeira vez. Isso mostra o que é realmente um espírito que atravessa as gerações.
Pela sua dimensão, e trabalho desenvolvido, o Corpo Nacional de Escutas não poderia ser mais envolvido nas tomadas de decisão sobre matérias educativas?
Não tenho dúvidas, eu recordaria que o movimento escutista resistiu à tentativa de absorção da ditadura. Quando foi criada a Mocidade Portuguesa, houve uma tentativa de OPA, ou seja, uma oferta pública, e ali nem era pública, mas sim privada, de aquisição sobre o que era uma realidade com força e com projeção universal. E resistiu, e não era fácil resistir e, portanto, com o mesmo dinamismo e a mesma energia. O seu papel em democracia é fundamental. Na definição das políticas de educação, é evidente que um dos parceiros privilegiados há de ser este movimento.
Texto de: Henrique Matos. Fotografia de: Ricardo Perna.