FL – Em que lugar fica a tua vida profissional?
RO – Eu quero muito seguir a minha vida profissional. Eu tenho formação em engenharia mecânica, falta-me apenas terminar a tese. Na altura, aceitei porque estava numa lógica de que o CNJ seria um desafio incrível e por isso vamos aproveitar estes dois anos. O CNE pode depois apresentar mais uma candidatura, não está excluído, mas acho muito importante este trabalho que está a fazer para afirmar o CNJ e dar-lhe estabilidade.
Sei que quem nos está a ler não consegue perceber, mas atualmente nós temos aqui na sede do CNJ temos 6 recursos humanos, houve fases em que tivemos só 1 recurso humano e por isso é uma grande diferença de trabalho, de capacidade e do que se consegue fazer. Eu nunca pensei em estar num cargo político de juventude… Se me perguntassem há 5 anos atrás onde é que eu estaria hoje, eu diria que estaria numa empresa a fazer engenharia mecânica.
FL – Concordas que este gosto pela participação ativa, vem das tuas experiências adquiridas no Escutismo?
RO – Tenho a certeza absoluta, mas não só pela participação ativa. Eu costumo dizer às pessoas que trabalham connosco aquela frase de “Se não for para deixar isto melhor, não serve.” e as pessoas dizem que é aquela frase clichê. É de facto, mas não consigo encontrar uma melhor, porque é mesmo esse o pensamento. Todos os dias que nós fazemos um projeto podemos pensar que não precisamos melhorar o mundo todo de uma vez e de repente, vamos tentando melhorar aos poucos, crescendo todos os dias mais um bocadinho, que vai dar um grande resultado no fim.
Esse é realmente um dos objetivos que temos e quando estamos nestes meios nós acabamos muitas vezes por nos perder com tanto barulho. Eu sinto muito isso no CNJ, nós temos muito barulho, temos muitos órgãos a que pertencemos e às vezes é importante focar e ver o que é que realmente queremos para deixar esta casa um bocadinho melhor. Um exemplo, é termos atividades que tenham um número reduzido de pessoas mas que tenham um grande potencial de crescimento. Muito deste pensamento vem do Escutismo, da lógica do que é que podemos fazer, não precisam de ser projetos de 2 dias, podem ser projetos a longo prazo e vamos montando esse caminho devagar, para chegarmos ao projeto que queremos.
FL – Sentes que o trabalho que estás a fazer já é fator de mudança?
No CNJ tivemos um primeiro ano muito calmo, ainda assim esse trabalho já é fator de mudança. Apesar de ser mais calmo, este ano será muito mais ativo. Neste último ano o CNJ aumentou imenso a sua relação com o Governo, seja com o Secretário de Estado, sem com a Ministra, com o Primeiro Ministro ou com o Presidente da República. Hoje estes órgãos estão mais interligados ao CNJ e são uma parte muito importante, porque é uma ligação com os decisores políticos. Eu acho que estamos mais vivos, mais despertos.
FL – Não era de todo este o percurso que imaginavas para a tua vida, mas sentes que no futuro fará diferença com o que levas daqui?
RO – Sim, a experiência do Conselho Nacional de Juventude será certamente muito marcante na minha vida. Para um engenheiro mecânico o CNJ é uma coisa bastante política e de muita negociação e gestão política, que tipicamente não é uma predisposição que eu tenha. É um desafio enorme eu ter que trabalhar com a diversidade. Se pensarmos que dentro do CNJ temos extremos políticos, movimentos estudantis, organizações ligadas a campos de férias, legais, ecologistas, movimento católicos… Conseguir aglomera-las todas para que no fim formem um Conselho Nacional de Juventude, é um desafio. Nós muitas vezes esquecemos aquilo em que realmente acreditamos e que queremos para o futuro do país. Apesar de eu saber que muita gente não concorda com este pensamento, eu tento muitas vezes fazer com que o papel do CNJ não seja para repercutir aquilo que eu acho sobre a juventude, o CNJ tem que ser aquilo que as organizações acham da juventude. Tento muitas vezes que sejam as organizações a ditar por aquilo que o CNJ acredita ou não acredita.
Eu vinha da Associação Académica, onde a gestão de 5 milhões de euros que são organizados muito cautelosamente e quando cheguei ao CNJ não tinha muitos desses procedimentos, o que me fez muita confusão. Passei para quase o oposto, em abro o pensamento, onde é possível criar muito uma cultura organizacional e estamos a fazer um bom trabalho nisso. Há pessoas na direção do CNJ que já estavam a fazer um trabalho na direção anterior e que continuam a fazer um bom trabalho. Eu diria que esta questão da área social, porque os engenheiros são menos ligados a estas questões culturais e sociais, vai naturalmente marcar a minha passagem pelo CNJ e que me marcará para o resto da vida.
FL – Juntamente com o Escutismo, certamente.
RO – Eu quase já nem coloco o Escutismo aqui porque é o que faz a linha de continuidade entre tudo, em que entrei aos 6 anos e continua a existir. Nesta fase, é muito difícil ter essa ligação contínua todos os fins de semana com toda a vida do CNJ.
FL – Era isso que gostaria de te perguntar: Continuas no ativo? Consegues continuar a trabalhar localmente no agrupamento?
RO – Eu vou acompanhando o agrupamento, mas é mais às vezes pelas mensagens distantes do que propriamente com a minha presença, porque é muito difícil ter essa ligação neste momento. O CNJ, à semelhança dos escuteiros e das 50 organizações do CNJ, tem muita atividade ao fim de semana. Além disso, o trabalho do CNJ existe quase full-time do Presidente e a distância de estar a residir em Lisboa também não ajuda, porque é mais um fator. Vou acompanhando, com alguma saudade.
FL – Mas planeias regressar?
RO – Sim, planeio regressar sempre. Quando o nosso projeto estiver bem implementado no CNJ planeio regressar a uma vida social, que é uma coisa que como Presidente não tem acontecido muito.
Quero voltar a estar ligado ao agrupamento e a estes níveis do Escutismo. Quero acreditar que é um dos desígnios que e vai haver tempo para o fazer e para mim é importante. Por agora, acho que é muito importante para mim e para o CNE a minha representação no CNJ para abrir o espectro do CNE que realmente é muito ativo e que conseguimos formar jovens ativos na sociedade, ou seja, os jovens conseguem liderar o Conselho Nacional de Juventude a discutir política, a sociedade connosco. Isso tem aberto muitas portas no CNE que está agora mais aberto à sociedade. Essa é uma parte importante do trabalho que também acredito que estamos a fazer aqui direto com o Escutismo. Eu digo muitas vezes que trabalho diariamente para o Escutismo porque estou a colocar o CNE no CNJ. Infelizmente a nível de bases, não tem dedicado o tempo que gostaria, porque o tempo não se desmultiplica e não dá para meter uma cassete e puxar para trás.
São escolhas e tenho que agradecer ao meu agrupamento porque me dá sempre liberdade e um apoio enorme e tem uma grande compreensão. Sinto-me mesmo feliz porque muitas vezes estou em Nova Iorque ou em qualquer outra parte do mundo, coloco uma foto e as primeiras reações são de pessoas que desde os primeiros dias estiveram comigo. É mesmo importante saber que mesmo em casa continuam a dar um boost e a apoiar.