«A sociedade precisa muito de escuteiros a impactá-la»

O Rui Oliveira é escuteiro e foi eleito para representar o Corpo Nacional de Escutas no Conselho Nacional da Juventude. Cresceu no Escutismo e assume que o que o fascina mais no Escutismo é a capacidade que o movimento tem para formar cidadãos participativos na sociedade. Quisemos conhecer a sua vida, que é um exemplo de participação e envolvimento jovem.

Flor de Lis (FL) – Rui, conta-nos o teu percurso escutista e como é que chegas até onde estás agora.

Rui Oliveira (RO) – Comecei nos escuteiros aos seis anos, naquela típica tradição de família em Braga, especificamente em Guimarães, de quem tem muitos colegas e familiares no Escutismo, que começou a ver os primos a irem para os escuteiros e por isso achou que também tinha de ir. E por isso aos cinco anos já andava por lá a fazer umas atividades, mas depois aos seis anos, faço o ingresso no movimento pelos Lobitos e faço o resto do percurso todo no 455 Vermil, que é o meu agrupamento de origem. Durante os meus anos de juventude fui fazendo outras coisas, futebol e outras atividades desportivas, mas foi a partir dos 16 e 17 anos que acabei por ficar muito motivado para o Escutismo. Depois, com a entrada para a faculdade, acabei por acumular o projeto do Cenáculo, que me acaba por mudar muito a visão que eu tinha do Escutismo, como olhava para a participação cívica, ou seja, eu olho para o Cenáculo quase como um despertar para esta vida mais participativa, mais ativa na sociedade. No ano em que faço a representação nacional de Guimarães no Cenáculo, entrei para a Associação Académica, na altura (porque agora mudaram um pouco as nomenclaturas) como Diretor para o Pedagógico por Guimarães.

Termino esse mesmo ano a ir à Conferência Mundial Escutista e com o Fórum Mundial Escutista, que foi uma experiência marcante para mim. Todo esse ano fui tendo participações marcantes, como o Encontro Nacional de Guias, muito ao nível do envolvimento com o Escutismo. Era muito raro um fim de semana que estivesse parado, tinha muitas atividades, a nível também do meu núcleo, com muitas dinamizações de envolvimento com os jovens.

FL – Em que local decorreu a Conferência?

RO – Foi no Azerbaijão, em 2017. Eu lembro-me que quando regresso, apanho o que foi o meu antecessor, Presidente da Associação Académica, que era uma pessoa que eu conhecia muito bem, porque ele estudava comigo em Guimarães, era adjunto na altura. O que ele me diz é que me queria na equipa dele do próximo ano da Académica e perguntou o que é que eu queria fazer. Eu lembro-me de dizer na altura que o cargo que faltava na Associação Académica era um secretário que ajudasse a articular o trabalho do Presidente com a Associação, porque a vida do Presidente é demasiado caótica e não tinha na altura quem lhe olhasse para essa visão. E ele respondeu-me que eu estava parvo, porque queria que eu assumisse uma pasta que fosse verdadeiramente desafiante. O certo é que eu teimei com aquilo, ele deu- -me uma oportunidade e carta branca para trabalhar. No início da vida da Associação Académica acumulei o cargo de Presidente Adjunto, por causa de algumas saídas, e nesse ano já tinha assumido uma responsabilidade com a Equipa do Cenáculo Nacional. Foi então um ano muito desafiante, acabei por estar muito envolvido na Associação e nos Escuteiros.

FL – E a partir daí?

RO –  Fiz o meu segundo ano como adjunto na Associação Académica, que coincidiu com uma fase final do meu percurso escutista, a fase do desafio, e em conversa com o meu Chefe de Clã fomos percebendo: «Porque não fazer um ano mais intenso na Associação Académica?». Acabei por assumir essa vertente, fiz um ano muito intenso e em 2020 acabo por me candidatar a Presidente da Associação Académica. Faço dois anos muito desafiantes, porque apanhei a pandemia e o ensino superior foi muito afetado, em que teve de se reinventar rapidamente, onde existia uma grande taxa de problemas. Tive dois anos também em que politicamente a nível externo foram também muito interessantes, em que conseguimos criar um grupo de trabalho com todas as académicas de norte a sul do país e mesmo as ilhas. Acabei por ter também uma dimensão nacional com as Académicas muito interessante, eu sentia que existia um grande respeito e reconhecimento para comigo. Tinha perspetivado fazer só um ano de associação académica, fiz dois e ao fim de dois sabia que não ia fazer mais.

 FL – Mas porquê? Por decisão própria?

RO –  Sim, já tinha feito dois mandatos de adjunto, mais dois de presidente… Em cargos tipicamente para jovens era muito tempo dentro da Associação Académica, e a minha continuidade era má, porque achava que poderia ir para o mercado de trabalho, precisava de fazer outro percurso. Nunca esteve em cima da mesa o Conselho Nacional da Juventude (CNJ), até setembro de 2021, até começarem a surgir as eleições do CNJ. Muitos dos meus parceiros, colegas que estavam comigo no mundo estudantil, pessoas que estavam comigo nos escuteiros, pessoas que estavam comigo em vários lados, acabaram por me dizer que eu tinha um perfil muito interessante para liderar o CNJ, porque acumulo muito o conhecimento da juventude e do mundo estudantil, que é uma grande parte do CNJ. Por outro lado, podes ter uma organização, que são os escuteiros, que é uma típica associação forte do Conselho Nacional da Juventude, muito respeitada, que paute por esse princípio e que dê estabilidade à presidência, por onde em três anos passaram quatro presidentes. Quando começámos a formalizar a candidatura no CNE começámos a perceber que o principal pressuposto era ter alguém que estivesse a pensar nisto a longo prazo, para quando deixarmos a presidência ser uma coisa mais trabalhada. Quando se começaram a juntar estes fatores todos foram falando comigo, fui percebendo que para mim fazia sentido e depois há uma altura em que fazemos a candidatura.

«Se não for para deixar isto melhor, não serve»

 

FL – Em que lugar fica a tua vida profissional?

RO – Eu quero muito seguir a minha vida profissional. Eu tenho formação em engenharia mecânica, falta-me apenas terminar a tese. Na altura, aceitei porque estava numa lógica de que o CNJ seria um desafio incrível e por isso vamos aproveitar estes dois anos. O CNE pode depois apresentar mais uma candidatura, não está excluído, mas acho muito importante este trabalho que está a fazer para afirmar o CNJ e dar-lhe estabilidade.

Sei que quem nos está a ler não consegue perceber, mas atualmente nós temos aqui na sede do CNJ temos 6 recursos humanos, houve fases em que tivemos só 1 recurso humano e por isso é uma grande diferença de trabalho, de capacidade e do que se consegue fazer. Eu nunca pensei em estar num cargo político de juventude… Se me perguntassem há 5 anos atrás onde é que eu estaria hoje, eu diria que estaria numa empresa a fazer engenharia mecânica.

FL – Concordas que este gosto pela participação ativa, vem das tuas experiências adquiridas no Escutismo?

RO – Tenho a certeza absoluta, mas não só pela participação ativa. Eu costumo dizer às pessoas que trabalham connosco aquela frase de “Se não for para deixar isto melhor, não serve.” e as pessoas dizem que é aquela frase clichê. É de facto, mas não consigo encontrar uma melhor, porque é mesmo esse o pensamento. Todos os dias que nós fazemos um projeto podemos pensar que não precisamos melhorar o mundo todo de uma vez e de repente, vamos tentando melhorar aos poucos, crescendo todos os dias mais um bocadinho, que vai dar um grande resultado no fim. 

Esse é realmente um dos objetivos que temos e quando estamos nestes meios nós acabamos muitas vezes por nos perder com tanto barulho. Eu sinto muito isso no CNJ, nós temos muito barulho, temos muitos órgãos a que pertencemos e às vezes é importante focar e ver o que é que realmente queremos para deixar esta casa um bocadinho melhor. Um exemplo, é termos atividades que tenham um número reduzido de pessoas mas que tenham um grande potencial de crescimento. Muito deste pensamento vem do Escutismo, da lógica do que é que podemos fazer, não precisam de ser projetos de 2 dias, podem ser projetos a longo prazo e vamos montando esse caminho devagar, para chegarmos ao projeto que queremos.

FL – Sentes que o trabalho que estás a fazer já é fator de mudança?

No CNJ tivemos um primeiro ano muito calmo, ainda assim esse trabalho já é fator de mudança. Apesar de ser mais calmo, este ano será muito mais ativo. Neste último ano o CNJ aumentou imenso a sua relação com o Governo, seja com o Secretário de Estado, sem com a Ministra, com o Primeiro Ministro ou com o Presidente da República. Hoje estes órgãos estão mais interligados ao CNJ e são uma parte muito importante, porque é uma ligação com os decisores políticos. Eu acho que estamos mais vivos, mais despertos.

FL – Não era de todo este o percurso que imaginavas para a tua vida, mas sentes que no futuro fará diferença com o que levas daqui?

RO – Sim, a experiência do Conselho Nacional de Juventude será certamente muito marcante na minha vida. Para um engenheiro mecânico o CNJ é uma coisa bastante política e de muita negociação e gestão política, que tipicamente não é uma predisposição que eu tenha. É um desafio enorme eu ter que trabalhar com a diversidade.  Se pensarmos que dentro do CNJ temos extremos políticos, movimentos estudantis, organizações ligadas a campos de férias, legais, ecologistas, movimento católicos… Conseguir aglomera-las todas para que no fim formem um Conselho Nacional de Juventude, é um desafio. Nós muitas vezes esquecemos aquilo em que realmente acreditamos e que queremos para o futuro do país. Apesar de eu saber que muita gente não concorda com este pensamento, eu tento muitas vezes fazer com que o papel do CNJ não seja para repercutir aquilo que eu acho sobre a juventude, o CNJ tem que ser aquilo que as organizações acham da juventude. Tento muitas vezes que sejam as organizações a ditar por aquilo que o CNJ acredita ou não acredita.

Eu vinha da Associação Académica, onde a gestão de 5 milhões de euros que são organizados muito cautelosamente e quando cheguei ao CNJ não tinha muitos desses procedimentos, o que me fez muita confusão. Passei para quase o oposto, em abro o pensamento, onde é possível criar muito uma cultura organizacional e estamos a fazer um bom trabalho nisso. Há pessoas na direção do CNJ que já estavam a fazer um trabalho na direção anterior e que continuam a fazer um bom trabalho. Eu diria que esta questão da área social, porque os engenheiros são menos ligados a estas questões culturais e sociais, vai naturalmente marcar a minha passagem pelo CNJ e que me marcará para o resto da vida.

FL – Juntamente com o Escutismo, certamente.

RO – Eu quase já nem coloco o Escutismo aqui porque é o que faz a linha de continuidade entre tudo, em que entrei aos 6 anos e continua a existir. Nesta fase, é muito difícil ter essa ligação contínua todos os fins de semana com toda a vida do CNJ.

FL – Era isso que gostaria de te perguntar: Continuas no ativo? Consegues continuar a trabalhar localmente no agrupamento?

RO – Eu vou acompanhando o agrupamento, mas é mais às vezes pelas mensagens distantes do que propriamente com a minha presença, porque é muito difícil ter essa ligação neste momento. O CNJ, à semelhança dos escuteiros e das 50 organizações do CNJ, tem muita atividade ao fim de semana.  Além disso, o trabalho do CNJ existe quase full-time do Presidente e a distância de estar a residir em Lisboa também não ajuda, porque é mais um fator. Vou acompanhando, com alguma saudade.

FL – Mas planeias regressar?

RO – Sim, planeio regressar sempre. Quando o nosso projeto estiver bem implementado no CNJ planeio regressar a uma vida social, que é uma coisa que como Presidente não tem acontecido muito.

Quero voltar a estar ligado ao agrupamento e a estes níveis do Escutismo. Quero acreditar que é um dos desígnios que e vai haver tempo para o fazer e para mim é importante. Por agora, acho que é muito importante para mim e para o CNE a minha representação no CNJ para abrir o espectro do CNE que realmente é muito ativo e que conseguimos formar jovens ativos na sociedade, ou seja, os jovens conseguem liderar o Conselho Nacional de Juventude a discutir política, a sociedade connosco. Isso tem aberto muitas portas no CNE que está agora mais aberto à sociedade. Essa é uma parte importante do trabalho que também acredito que estamos a fazer aqui direto com o Escutismo. Eu digo muitas vezes que trabalho diariamente para o Escutismo porque estou a colocar o CNE no CNJ. Infelizmente a nível de bases, não tem dedicado o tempo que gostaria, porque o tempo não se desmultiplica e não dá para meter uma cassete e puxar para trás.

São escolhas e tenho que agradecer ao meu agrupamento porque me dá sempre liberdade e um apoio enorme e tem uma grande compreensão. Sinto-me mesmo feliz porque muitas vezes estou em Nova Iorque ou em qualquer outra parte do mundo, coloco uma foto e as primeiras reações são de pessoas que desde os primeiros dias estiveram comigo. É mesmo importante saber que mesmo em casa continuam a dar um boost e a apoiar.

« O CNE será tanto maior quanto mais impacto criar para o exterior»

FL – Que mensagem gostarias de deixar aos jovens do CNE que atualmente enfrentam bastantes desafios na sociedade atual.

RO – A minha mensagem é para que eles assumam. Que sejam reivindicativos, sonhadores e que passem do sonho à concretização. Digo isto muitas vezes em vários fóruns, que percebam que o Escutismo é uma ferramenta de desenvolvimento para que eles possam ir para a sociedade fazer coisas e impactar a sociedade. Nós podemos ser os melhores nos ODS no Escutismo, mas o giro é que façamos os ODS nas nossas escolas, na nossa sociedade. O nosso habitat é a natureza mas deve ser também na ligação do dia a dia, na cidade, quando temos imensas pessoas e é importante impactá-las para que percebam, por exemplo, porque é que é importante fazer reciclagem, ter cuidados com o planeta. Nós somos pioneiros nisso. Mesmo na participação nós somos realmente genuínos, olhamos para coisas a pensar no que é que poderá ser melhor, e a sociedade precisa muito dessas pessoas que queiram realmente fazer o bem. A sociedade precisa muito de escuteiros a impactá-la. Estar apenas no Escutismo tem pouco impacto, por isso vão e assumam. O CNE será tanto maior quanto mais impacto criar para o exterior.

A segunda mensagem é que exijam também ao CNE mudanças em questões importantes a nível social. Existem muitos jovens no CNE em questões que acham que devem lutar, que devem mudar. Assumam essas batalhas, nessas questões que acham que devem mudar.

O CNE prepara cidadãos ativos, mas não consegue preparar cidadãos ativos se não tiver à frente do tempo na sociedade, existem algumas questões cruciais em que nós enquanto CNE podemos ir mais à frente do tempo e em que temos que avançar rapidamente. Acho que aí os jovens podem ter um papel importante e sei que a Chefia Nacional está empenhada em ter a ajuda desses jovens para crescer, por isso ajudem também as lideranças e trabalhem com elas para essa evolução.

FL – Se tivesses que escolher uma palavra para descrever o Escutismo qual é que seria?

RO – Potenciar, acho que o Escutismo nos potencia. Podemos não passar por aqui e sermos bons na mesma, mas se passarmos por aqui vamos ficar ainda melhores.

FL – Por último, o CNE faz 100 anos. Que mensagem gostarias de deixar sobre isso?

RO – A mensagem que gostaria de deixar, e acho que o CNE tem acertado imenso ao comunicar esta linha, é de celebrarmos aquilo que foram os 100 anos de Escutismo, mas principalmente olhar o futuro. Nós fomos absolutamente marcantes nestes 100 anos. Eu como Presidente do Conselho Nacional de Juventude, ainda que vista muito a casa, posso dizer que provavelmente não houve estrutura tão importante para a juventude portuguesa como o Escutismo, pelo impacto e legado que teve de fazer e potenciar jovens. O Escutismo tem realmente um impacto fundamental na vida de muitos jovens, nesse crescimento para a participação, para a sustentabilidade… Mas agora é preciso olhar para o futuro. Aquilo que eu dizia há pouco, existem desafios que eu acho que o CNE vai ter que superar rapidamente para conseguir continuar atual e para estar na linha de uma sociedade inovadora e em crescimento. Questões como a identidade de género, são questões que hoje para os jovens são assumidas como fundamentais e toda a gente na sociedade deve ter essa liberdade de escolha e nós no Escutismo e na Igreja temos que avançar com essa parte de dar um boost neste processo. Este tem que ser um dos próximos passos do Escutismo, de percebermos como é que podemos evoluir nesta parte, como é que evoluímos a nível social. Vou dar um exemplo: O CNJ está a discutir hoje a questão de ter voto aos 16 anos, nós só agora no Escutismo é que fizemos a transição para os 18. O CNE vai ficar com os 18 anos e possivelmente a sociedade civil vai passar para os 16. Quer dizer, vamos ter novamente um gap em que no CNE se vota mais tarde do que se vota para a sociedade civil. Então desta forma não estamos a preparar jovens para a sociedade, porque a sociedade é que está a preparar jovens para o Escutismo, porque permite votar primeiro num Presidente da República ou no Primeiro-Ministro do que nos órgãos nacionais do Escutismo. Por isso há aqui uma série de processos, de caminho, que temos que realmente evoluir. A pergunta é: Estamos mal? Não, não estamos mal. Temos é que perceber que o mundo se está a transformar cada vez mais rapidamente e nós vamos ter que nos transformar cada vez mais rápido. O CNE não pode perder aquela base, os seus pilares, a sua identidade de projeto, de individualidade, crescimento, de potenciar pessoas, de massa ativa, de cidadãos ativos. Mas o CNE tem que se preparar para responder e tem que ser naturalmente diferente.

Por isso a minha mensagem é olhar para o futuro e que o CNE seja sempre capaz de se reinventar e ir à luta na inovação e seja sempre reconhecido por ser um local onde a juventude é inovadora, irreverente, progressista no seu pensamento, onde não existe uma juventude cristalizada com um pensamento mais atrasado para esta sociedade.

Acho que este é um processo importante onde acho que aqui jovens como eu, que estão agora nessa parte de adultos, podem fazer esse trabalho. É um caminho importante para o CNE até para os jovens se identificarem mais com o CNE. Olhar o futuro e sermos confiantes com o que temos que fazer no futuro.

Porque eu digo isto muitas vezes, não é só uma questão de sobrevivência, não é só para o CNE continuar a crescer, é porque a missão do CNE é realmente muito importante para o país. O país também espera um CNE forte para conseguir ter esse impacto, um papel verdadeiramente relevante para o país.

Texto: Cláudia Xavier

Fotografias: Arquivo CNE e CNJ

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