Em 1907, o Tenente-General Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, mais conhecido por B.P., realizou o primeiro acampamento de escuteiros na ilha de Brownsea, a sul do Reino Unido, junto à localidade de Poole. É por isso incontornável o sonho de qualquer escuteiro visitar a ilha e sentir a essência do escutismo, como se de um novo ponto de partida para a sua vida escutista se tratasse. Assim era o sonho de alguns elementos do agrupamento que ao longo dos últimos anos reuniram esforços para que fosse possível cumpri-lo.
A ideia cimentou-se em 2018 e como tantas outras teve que ser abandonada porque a pandemia deixou tudo e todos em standby. Mas o sonho não morreu, as ideias iam sendo cada vez mais espalhadas pelos elementos, desde os mais novos até aos mais velhos. E como tão bem nos ensinou B.P., “devagar devagarinho se apanha o macaquinho”, e lá seguiram os elementos mais velhos na pesquisa e pré-preparação de uma atividade escutista cheia de essência, fraternidade e missão. Em 2023 decidiram, então avançar com datas e campanhas de angariação de fundos, regulamentos e muitas outras burocracias. Era agora! O sonho não os podia abandonar e a vontade de encontrar a origem era cada vez maior.
Em setembro de 2024 encetaram-se os primeiros contactos e até à data da viagem foram vivendo entre burocracia e preparação escutista de todos os elementos para esta grande aventura.
Chegou a madrugada de dia 19 de agosto e fardados a rigor lá se encontraram para a primeira parte da viagem rumo ao aeroporto de Lisboa. Não havia sono nem cansaço no rosto apesar das 3 horas e 40 minutos que marcava o relógio quando chegaram. A ânsia, a expectativa, o medo da primeira viagem de avião para alguns, o desafio de carregar malas tão pesadas para outros, transpiravam nos rostos e corpos encamisados. Estavam felizes, iam descobrir a essência do que prometeram, recordar os momentos vividos e descobrir o seu papel no escutismo.
Às 7h45 os motores ligaram e lá foram rumo à experiência inesquecível. Chegados ao aeroporto de Heathrow, Londres, apanharam um autocarro rumo a Poole. Já só queriam chegar e abraçar a estátua do fundador. Sim, a arquitetura era diferente, as paisagens muito ricas, mas o foco era outro e talvez por isso nessa altura os olhos estavam apenas postos no horizonte ao som das músicas que iam cantando.
Chegaram, abraçaram o seu grande mentor, amigo, irmão. B.P. estava ali! Sentado de olhos na “sua” ilha, aqueles olhos que nos entram pela alma e nos fazem acreditar num mundo melhor. Suspiraram, choraram, abraçaram e fizeram outros que por ali passavam sentir a sua imensa alegria.
Era hora do barco e lá seguiram rumo a Brownsea! É agora! Estamos cá! Brownsea ficou mais brilhante com a chegada dos 37 elementos. Ouviu-se o elemento mais novo, com apenas 7 anos dizer: “Eu não quero acreditar que vou pisar Brownsea, estou tão feliz.”. Os corações pararam e reconheceram a verdadeira missão dos adultos – trazer aos mais pequenos a esperança, a fé, a coragem e a verdade.
Foram 3 noites de acampamento na ilha em que houve tempo para explorar, mergulhar, meditar, orar, para refletir em conjunto num fogo conselho fantástico e onde ainda houve espaço para se reconhecer os que tanto já deram pelo escutismo em Cem Soldos. Foram 3 dias de muito escutismo, de muita natureza, de muita cooperação e de muita missão. Tinham encontrado a origem. A do escutismo e a sua própria origem no escutismo.
A aventura tinha de os levar a outras paragens e rumaram a Youlbury, perto de Oxford, não sem antes passar novamente ao pé do senhor de chapéu e bigode agradecer por ter dado tanto de si em prol do movimento, por ter deixado tanto para nos ensinar ao longo destes anos. Um último abraço a B.P.!
Chegados a Youlbury, a alegria era evidente, descobriram ao longo dos quatro dias seguintes que juntos são mesmo mais fortes, descobriram o verdadeiro espírito do irmão mais velho no cuidado e cooperação. Desafiaram os medos e superaram desafios, todos em união. Trouxeram memórias inesquecíveis das inúmeras atividades que realizaram e mesmo cansados e cheios de saudades de casa diziam “sou tão feliz aqui mas tenho saudades da minha família”, “podemos voltar outra vez para o ano?”. Corações puros, cheios de alegria são o melhor que se pode pedir e um espelho claro que é o escutismo. “Uma dificuldade deixa logo de o ser, assim que te rires dela e a enfrentares.”, B.P.
Um dos dias ainda houve tempo para descobrir Oxford, os seus inúmeros edifícios ao serviço da educação, museus, igrejas e bibliotecas e claro, para comprar algumas lembranças.
A mochila estava cheia de sonhos, cheia de conquistas e de algumas certezas e era tempo de regressar. As tendas passaram a pedaços de pano, cordel, ferro e plástico arrumadas nas mochilas, as roupas passaram a parecer imensamente grandes para caber talvez porque nos olhos as gotas de água se acumulavam com a dor da partida misturada com a saudade sentida.
Foram felizes durante uma semana em Inglaterra, encontraram a origem e trouxeram no bolso o desafio de recomeçar.
A vida é feita de sonhos e não os abandonar é o primeiro degrau para os alcançar, dizia B.P. “muitas pessoas devem a grandeza das suas vidas aos problemas que tiveram de vencer”, e assim foi, o 837 venceu!
Por fim resta-lhes agradecer o apoio do Município de Tomar, à Junta de Freguesia da Madalena e Beselga, ao IPDJ, às farmácias Grave e Central dos Soudos, à escola de Condução Carreira, ao SCOCS, ao agrupamento de escuteiros de 3rd Poole Sea Scouts, ao Staff da National Trust, a todo o Staff do Campo de Youlbury que foram excecionais e nos fizeram sentir em casa, à Marta Penteado por toda a disponibilidade e ajuda ao longo da preparação da atividade, aos pais que nos receberam com uma refeição à Portuguesa, a todos os familiares e amigos do 837 e aos que mesmo sem saberem foram contribuindo nas nossas angariações de fundos. “Vale a pena ser bom, mas o melhor é fazer o bem.”, B.P.
Bem hajam!