Pode até ser difícil de acreditar, para quem não está aqui, mas são 9h00 da manhã e estão mais de 10 mil jovens entre os 14 e os 17 reunidos numa arena para rezar. Sim, para rezar. É o dia da Oração inter-religiosa no Jamboree, acampamento mundial de escuteiros que decorre no Japão.
A meio do acampamento, há sempre um dia dedicado à cultura e à espiritualidade. Neste dia, celebra-se a união de todas as religiões com um grande momento de oração inter-religiosa e depois cada religião junta-se para uma celebração. A manhã foi então de festa e reflexão, animada pelos diferentes grupos de escuteiros que, cada um com a sua religião, apresentaram as suas preces por um mundo mais unido, com mais paz, onde todas as crianças e jovens possam crescer em paz e tranquilidade, com todas as condições básicas de vida asseguradas. Scott Teare, secretário-geral da OMME (Organização Mundial do Movimento Escutista) também esteve presente na celebração.
Agradecendo a presença de todos, reforçou a importância do sentido de Deus na vida de cada escuteiro. «O dever para com Deus está presente nas intenções basilares do nosso fundador», referiu, acrescentando que «esse dever deriva diretamente da crença muito forte do nosso fundador. Apesar de, em ocasiões anteriores como na entrevista dada à Flor de Lis aquando da sua passagem por Portugal, ter apoiado medidas mais polémicas nestas matérias, nomeadamente a introdução da polémica fórmula da Promessa para ateus no Reino Unido, desta vez o discurso de Scott Teare, que até foi pastor protestante numa fase da sua vida, foi no sentido de reforçar a presença da religião no escutismo. «O Escutismo não dita o caminho que cada um de nós deve tomar a respeito das nossas crenças religiosas. No entanto, o Escutismo diz-nos que devemos ajudar a “trazer o reino de Deus para a terra”. Nós contribuímos para este objetivo através dos valores que estão expressos na nossa promessa», sustentou.
Mais do que a profundidade das intervenções dos diversos escuteiros, marcou o momento final, em que cada religião pediu a bênção sobre todos os presentes no seu próprio ritual, os mais de 10 mil escuteiros em silêncio contemplativo, de mãos dadas.
«A natureza é o livro com que Deus nos fala»
À cerimónia inter-religiosa seguiram-se várias celebrações. A celebração católica, presidida pelo arcebispo de Osaka, D. Thomas Maeda, foi a que teve a participação de escuteiros portugueses. Celebrada em japonês, teve a assistência de cerca de 1.300 pessoas, com os portugueses a serem um dos maiores contingentes presentes.
Durante a homilia, traduzida em inglês e francês a partir das palavras do arcebispo em japonês, D. Maeda reforçou a importância da reunião dos católicos em eventos como este Jamboree. «Vamos rezar a uma só voz, nós, cristãos que estamos aqui no Jamboree, pois os cristãos vivem este mesmo espírito de unidade todas as semanas, na Eucaristia», disse aos presentes.
Com uma referência aos 70 anos da bomba atómica em Hiroshima e Nagasaki, o arcebispo pediu que se «rezasse por todos os escuteiros do mundo». «Neste aniversário da bomba atómica, rezemos ao Pai para que a paz se torne uma realidade», pediu, afirmando que, «se acreditarem em tudo o que rezam, podem ter a certeza que vos será concedido pelo Pai».
Presente esteve também o núncio apostólico do Japão, embaixador do Vaticano, D. Joseph Chennoth, que trazia a bênção apostólica do Papa Francisco e uma mensagem especial, vinda do secretário de estado do Vaticano, D. Pietro Parolin. «O Papa ficou muito satisfeito por saber do vosso encontro e manda cumprimentos calorosos para todos os que encontram aqui. Como participantes, reflitam bem no tema, pois o Papa pede que pensem bem no vosso compromisso para com Jesus. O Papa pede que os escuteiros possam ajudar os amigos e vizinhos a cuidar e apreciar a criação de Deus e a verem a natureza como um livro em que Deus fala connosco e nos lança um raio da sua bondade», referiu o prelado, em nome de D. Pietro Parolin.
Texto e foto de: Ricardo Perna