CNE participa no The Academy 2024 em Cracóvia
Dois Dirigentes do CNE marcaram presença na edição deste ano do The Academy, um evento europeu de formação para escuteiros e guias, que se realizou entre 22 e 27 de novembro em Cracóvia, na Polónia.
Por proposta do eurodeputado José Manuel Fernandes, o Corpo Nacional de Escutas foi distinguido com o “Prémio Cidadão Europeu 2020” do Parlamento europeu. Este prémio destaca o trabalho da associação ao nível da educação e formação dos jovens para a cidadania ativa e para o desenvolvimento de competências. De visita ao 24º ACANAC, explicou o porquê desta distinção.
Flor de Lis: O Eurodeputado José Manuel Fernandes juntou-se a nós neste ACANAC e claro queremos saber como é que está a correr a sua experiência neste ACANAC.
José Manuel Fernandes (JMF): É impressionante embora eu já conheça bem a atividade dos escuteiros mas é impressionante pela sua dimensão, pela organização e sobretudo pela boa disposição, pela coragem, pela resiliência, pela solidariedade que se nota, pelos valores que percebemos que existem e também pelo respeito, e o respeito por exemplo de regras que é absolutamente essencial.
Flor de Lis: E acha que essas regras, todos esses valores que está a falar, que são a raiz do CNE, acha importante para a sociedade e para os jovens do futuro?
JMF: Não diria que são importantes, eu diria que são cruciais, são imprescindíveis, nós precisamos de um mundo com valores, e os valores europeus, a paz, a democracia, a liberdade, a defesa da dignidade humana são valores que deveriam existir à escala global, e esses valores estão na base, não só na base mas depois também em todo o desenvolvimento daquilo que é o escutismo, portanto as vossas ações, o vosso trabalho, diria que a vossa generosidade, porque o voluntariado para mim não é uma treta, voluntariado é essencial, e se quisermos um mundo mais solidário, responsável, melhor, mais sustentável, com valores, deveríamos ter mais escutismo, mais, ainda mais, vocês são a maior organização de jovens do país mas nem sempre reconhecida, nem sempre valorizada, e esse é um ponto em relação ao qual todos deveriam dar o seu contributo e a sua colaboração.
Flor de Lis: Acha que a educação não formal, que é o que se está aqui a aplicar, deveria ser aplicada em mais outras áreas da sociedade portuguesa e europeia?
JMF: A educação não formal é essencial, nós a nível da Europa, eu tenho participado no reforço desse programa, temos o Erasmus+, que tem o objetivo de contribuir para a formação dos jovens, na área da educação, mas também desporto e da inclusão, e este programa ajuda ao contacto com o outro, a conhecer novas culturas, ao respeito, à educação não formal, à aprendizagem entre jovens que é essencial. A União Europeia reconhece essa dimensão, era importante por exemplo que o nosso orçamento de estado reconhecesse a importância de organizações como o Escutismo atribuindo-lhe os meios e os recursos necessários mas também valorizando por exemplo as suas ações. Eu sou daqueles que acha que um jovem que é Escuteiro ficaria praticamente dispensado daquelas disciplinas ligadas à educação cívica até porque se há um lugar onde há uma aprendizagem entre pares onde se verificam e se concretizam regras onde se respeita o outro, o meio ambiente, onde se valoriza a natureza é no Escutismo e nós precisamos de cidadãos responsáveis, bem formados, bem informados, por isso só temos que agradecer o trabalho que vocês fazem, que é um trabalho imprescindível, notável e nem sempre, infelizmente, reconhecido.
Flor de Lis: A nível de reconhecimento, propôs para distinção, e depois acabou por ganhar o CNE, o prémio Cidadão Europeu, é importante distinguir e fazer estas distinções a organizações como o CNE?
JMF: É uma forma de demonstrarmos gratidão, de dizermos obrigada, de valorizarmos esta enorme instituição e foi por conhecer de perto também o vosso trabalho que eu propus que o Corpo Nacional de Escutas fosse prémio Cidadão Europeu. E felizmente o título foi atribuído, tem uma dimensão importante, de um grande simbolismo. Espero que em termos nacionais haja outros prémios, outros reconhecimentos e isso não se faz com discursos, isso faz-se com ações concretas, tal como vocês não é com discursos que avançam e atuam, é com ações concretas, com uma solidariedade de facto, e aqui estou a citar no fundo Robert Schuman e a declaração de Schuman de 1950, ainda super atual e verifico que num mundo como o que vivemos hoje a paz, o combate às alterações climáticas, a necessidade da inclusão, o respeito pelo outro, a defesa da vida e da proteção da dignidade humana, são desafios essenciais para os quais vocês dão um enorme contributo.
Flor de Lis: Uma última questão, desafio-o a ser Escuteiro, depois deste raide, desta caminhada de vários quilómetros, estava pronto a ser Escuteiro?
JMF: Estava ponto a ser Escuteiro, e agora vou confidenciar-lhe uma coisa, eu acho que no meu currículo entre aspas falta-me ser Escuteiro, até porque eu fui o fundador de uma associação juvenil que ainda existe, a Associação Juvenil de Moure, fui fundador de outras instituições, co-fundador, como o rancho folclórico da minha freguesia, uma instituição de solidariedade, que também ainda existe essa instituição, e sinto que tive essa lacuna, que eu não sei se ainda vou a tempo de a preencher.
Flor de Lis: Acredito que ainda está a tempo, ainda se pode juntar como voluntário e precisamos de muitas pessoas para nos ajudar a fazer este caminho com os jovens. Por isso é convidado a juntar-se ao CNE.
JMF: A minha disponibilidade é super limitada, mas é com todo o gosto que me juntei aqui e que me juntarei também.
Entrevista: Sandro Bernardo
Transcrição: Ana Fonseca
Fotografia: António Rendeiro
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