Estamos aqui no Acanac, mas tens a experiência de várias atividades nacionais noutros países. Como é que se compara com a nossa realidade?
Há uma coisa que não muda, que é o entusiasmo da rapaziada a viver uma coisa destas, isso não muda. E isso é meio caminho andado para o sucesso destas atividades, que têm de ser vistas como uma plataforma de encontro e descoberta de que existem outros para além do que é a nossa paróquia ou comunidade. E aí acho que é o mesmo.
E no tipo de atividades?
No tipo de atividades mais físicas e radicais também pouco difere. O que difere mais é o fundo que nós damos às atividades. Há quem diga que nos escuteiros basta fazermos hikes e acampamentos sem preparação, que o aspeto educativo vem por arrasto. Nós damos uma intenção educativa diferente. Quando vamos para uma atividade, temos uma consciência educativa diferente, daquilo que as atividades vão desenvolver mais a criança ou jovem num aspeto ou no outro. Acho que a intenção educativa é maior no que nós fazemos aqui, e toda a base que é fornecida pelo nosso carácter católico é uma diferença grande, e até se compararmos com outras associações católicas, a diferença é maior. No geral, esta base e quase necessidade de buscar esses conteúdos dá-nos conforto interno, faz sentido. Aqui há uma diferença grande. Não digo que o CNE seja o único no mundo a fazer…
Mas é daqueles que o faz bem?
Sim, acho que é daqueles que o faz bem. E isso agarra mais o pessoal, o que pode parecer surpreendente. Quando falamos mais em adolescentes e jovens adultos, agarra muito esta ideia de chegarmos e nos sentirmos bem. Uma das perguntas que tenho feito quando vou a todo o lado é “porque é que gostam de ser escuteiros?”, e há uma resposta invariável que aparece sempre, que é “eu nos escuteiros posso ser eu próprio, sem arriscar a que me estejam a criticar”. Acho que nos nossos acampamentos temos esse fundo nas coisas, e isso dá um conforto interior nos jovens. Isso é surpreendente à luz do que vimos ouvindo dizer que os jovens não querem saber, que estão noutra, e se calhar não…
Precisam é da proposta certa?
Eu acho que sim. Precisam é que se toque nos botões exatos. Uma coisa muito simples. Quando vinha do Moot, e estavam lá 5000 pessoas, ouvi comentários de uma amiga brasileira a dizer “vejam como é possível ter 5000 jovens entre os 18 e os 25 a divertirem-se à bruta sem uma pinga de álcool, sem uma grama de nada, sem saltos altos e maquilhagem”. Como é que é possível trazer todas estas pessoas, ainda por cima de várias partes do mundo… é este tipo de conforto interior, de estar bem e poder divertir-se saudavelmente que nós oferecemos. E é nisso que acho que o CNE é muito forte, porque buscamos sentido às coisas, e embrulhamos as atividades nesse sentido.
Seres aplaudido por uma multidão já é normal em encontros destes, mas sê-lo “em casa” tem outro sabor…
Quando o presidente cá esteve, perdi muitas vezes o cortejo porque muitas pessoas paravam para falar comigo, tirar fotos… é muito gratificante, e mesmo ontem à noite, eu dizia aos meus colegas que não se preocupassem, porque eu já tinha falado para 35 mil pessoas no Jamboree do Japão e 22 mil não era grave… mas é diferente. Falar para os portugueses é diferente… é um bocadinho arrepiante, e é muito bom saudarem-te e sentires-te acolhido. Sobretudo é isso, sentires-te acolhido e sentires que elas têm orgulho naquilo que eu acabo por representar, isso dá-me uma satisfação muito grande.
A presença do Presidente ajudou a acentuar a importância do evento e do próprio CNE no país…
Eu acho que sim. Tem dois tipos de efeito. Para a autoestima da associação, porque desde o acampamento de 1973 que não vinha cá um presidente da República, e é importante para o CNE percebermos que são bons o suficiente para o Presidente vir cá e estar connosco. Do ponto de vista externo também é bom, porque leva as pessoas a questionarem-se “epá, quem são estes tipos a quem o presidente dedicou tantas horas da sua agenda atribulada?”, e é uma oportunidade muito grande que espero que possamos continuar a aproveitar nos próximos tempos.
Estiveste com ele, inclusive num jantar com uma patrulha. Como é que ele estava a viver isto?
Estive a jantar com ele num subcampo de uma patrulha, e essa foi a experiência mais engraçada, porque no passeio não consegui minimamente acompanhá-lo a ser invadido por toda a gente (risos). Mas esses minutos em que estivemos a jantar com a patrulha foram muito engraçados, porque foram os miúdos que cozinharam, ele é que esteve a servir e estava animadíssimo com a patrulha de exploradores. Ele gosta das pessoas, toda a gente sabe, mas estava super feliz pelo reconhecimento que as gerações mais novas lhe estavam a dar. Ele era praticamente uma rock star, com toda esta miudagem que o chamava. Ele estava muito contente e impressionado com a capacidade organizativa e de mobilização do CNE para um evento deste género.
Texto de: Ricardo Perna. Fotografia de: Nuno Perestrelo.