O Escutismo e a entrada na CEE: Que posição assumiu a Associação?

A adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) foi um dos momentos mais importantes da história do país. O Escutismo acompanhou de perto esta mudança no país e manifestou a sua opinião sobre este ponto de viragem em Portugal.

A 12 de junho de 1985 Mário Soares, Rui Machete, Jaime Gama e Ernâni Lopes assinaram o tratado de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) e à Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA), nos Mosteiros dos Jerónimos, em Lisboa. A entrada oficial de Portugal ocorreu a 1 de janeiro de 1986, tornando-se assim o país o 11º membro das Comunidades. Foram longos anos de negociações, mais concretamente oito, que começaram em 1977, e que passaram por oito governos. Após a queda do Estado Novo, o país enfrentava grandes desafios económicos e sociais, e a adesão à CEE foi vista por Portugal como uma oportunidade de modernização, crescimento económico e alinhamento com os países mais desenvolvidos da Europa.

A partir da adesão, o país passou a ter acesso a fundos estruturais da União Europeia, que ajudaram a financiar infraestruturas, a sustentar programas de desenvolvimento e o comércio português pode expandir-se, graças à eliminação de barreiras tarifárias e ao livre acesso ao mercado único europeu.

Que posição assumiu o CNE nesta adesão?

A Flor de Lis começou por explorar este assunto no seu suplemento destacável de janeiro de 1979, no qual fez questão de marcar a sua posição do CNE em cerca de quatro páginas, intituladas “O Corpo Nacional de Escutas e a Integração Europeia”, em que manifestou algumas preocupações com esta adesão, não só pelas consequências sociais mais também económicas. Este documento foi ainda distribuído no final do Seminário da JEF, no qual o CNE marcou presença. Na sua declaração final sobre esta temática, presente na mesma revista, o CNE mostra-se preocupado «relativamente à pouca importância atribuída às questões relacionadas com os problemas mais prementes com que se debate a juventude portuguesa (desemprego, educação) e à forma de os ultrapassar no contexto interno e europeu». Destaca ainda «a não-representatividade das organizações de juventude participantes em relação à globalidade da juventude portuguesa». Apesar de se manifestar desta forma, o CNE destaca que não é da sua competência fazer esta abordagem, contudo deve «deixar ao critério exclusivo dos seus associados (que aliás encoraja a pronunciarem-se sobre elas, no interior das organizações políticas que desejem e que, como tais, escapam à sua vocação e à sua esfera de competência)».

O ano de 1986 ficaria marcado pela Europa dos Doze, porque à adesão portuguesa à CEE juntou-se também Espanha. Em janeiro deste mesmo ano, a Flor de Lis volta a debruçar-se sobre este tema, por ser um evento relevante na história do país. Como explica o autor do artigo, José António Gonçalves «como escuteiros do CNE conhecemos bem um dos princípios da Associação: “o escuta é filho de Portugal e bom cidadão”. Sob reserva deste nada significar no plano em concreto, o Escutismo não se pode eximir ao imperativo pedagógico e nacional de bem formar os nossos jovens nesta ideia maior de bem servir a pátria, acreditando no seu futuro e trabalhando para o seu progresso». De uma forma simples é explicado o contexto histórico da Comunidade Europeia, a sua criação e as políticas do Mercado Comum. No número seguinte foi explicada a temática comunitária europeia, explicando o significado do Conselho de Ministros, a Comissão, o Parlamento Europeu e o Tribunal de Justiça. A revista Flor de Lis assumia desta forma um carácter informativo sobre a atualidade perante os seus assinantes.

Relativamente a esta adesão à CEE, também a Igreja se manifestou, através de uma Nota Pastoral do Patriarcado, do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, a qual foi partilhada na revista.

Nesse mesmo ano, foi celebrado o Ano Internacional da Paz, comemorado na Cimeira Ibérica, e que após a adesão de Portugal e Espanha à CEE, o CNE e o MSC assinalaram, segundo João Paulo Feijoo «a sua convicção de que ela poderá facilitar e valorizar o esforço de participação no seio do Escutismo Europeu que elas têm vindo a protagonizar desde há já algum tempo», como se pode ler na edição de abril de 1986.

Texto: Cláudia Xavier

Fotografias: Gonçalo Pinto

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