No dia em que o documento final da assembleia pré-sinodal dos jovens começou a ser votado pelos jovens, alguns deles estiveram à conversa com os jornalistas na Sala de Imprensa da Santa Sé.

Os trabalhos tiveram a participação, para além dos mais de 350 membros presentes na assembleia, de mais de 15 mil jovens que, através das redes sociais, «falaram dos seus sonhos». «A experiência de termos mais de 15 mil jovens a participar via redes sociais foi muito boa, porque os jovens sentiram-se protagonistas, e sentiu-se a gratidão ao Santo Padre e à Igreja de abrir esta porta», conta à Flor de Lis Javier Ayala, um seminarista do Chile da congregação dos Legionários de Cristo.

Os mais de 15 mil jovens acompanharam e participaram nos trabalhos. Produziram mais de dez mil comentários, que foram todos lidos e pensados, garante Javier. «Garanto-te, porque estive na equipa, que foram lidos os mais de 10 mil comentários que foram lá colocados [nos grupos de Facebook criados para o efeito]. Foi um grande trabalho de síntese, mas foram ouvidos e há muitas linhas convergentes» com o que ia sendo falado pelos jovens nos grupos linguísticos.

E para onde é que essas «linhas convergentes» apontam? «Desde logo, os jovens falam da família. Depois, pedem referências, uma Igreja aberta e próxima, que os acompanhe. Eles querem ser acompanhados, e referiram-no claramente nas redes sociais. Pedem referências, e curiosamente dentro da Igreja, não só no Papa e bispos, mas outros mais próximos, humildes e abertos, que não apenas os sacerdotes e as religiosas», refere este seminarista.

Ateus em diálogo com crentes
Sandro Bucher foi um dos jovens presentes. Apresentou-se como ateu, e admite que ficou «surpreendido» quando um elemento da Conferência Episcopal da Suíça o abordou com o convite. «Disse-me que o Papa queria convidar pessoas de outras religiões, e pessoas sem fé, e fiquei contente por ser escolhido para representar essas pessoas», revelou aos jornalistas. «Não sou anti-igreja de forma alguma, estou à procura de diálogo justo e objetivo, e foi por isso que fui escolhido», sustentou.

Ainda pensou que o tentariam converter, confessa. «Não… bom, talvez um pouco (risos), mas ninguém tentou converter o outro. Foi mesmo sobre aceitar as crenças de cada um. Não houve vergonha de falarmos sobre o que acreditamos», disse.

Sobre as reflexões, explica que houve muitos momentos «provocadores», sobre questões que tocam «os assuntos mais prementes da sociedade dos dias de hoje». Agora que tudo está quase a terminar, revela que, mesmo não tendo colocado em causa aquilo em que acredita, mudou a sua opinião sobre os jovens da Igreja. «Não repensei as minhas crenças, mas melhorei claramente a minha opinião sobre os jovens católicos como um todo e a Igreja. São mais abertos do que eu esperava, e as minhas questões são as deles», afirma.

Afirmação da doutrina social da Igreja
Leon Souza veio do Brasil para, na assembleia pré-sinodal, representar a Caritas Internationalis. Leva na bagagem de volta «uma renovação e uma esperança por causa das diversas experiências juvenis com que convivemos» e destaca a importância da «escuta» como uma das riquezas que retira dos trabalhos de grupo. «Uma Igreja que escute os jovens e reconheça as experiências dos jovens em vários setores. O Pré-Sínodo tem a presença de jovens cristãos, não cristãos e não crentes, e ouvir as várias experiências juvenis é muito importante», disse à Flor de Lis.

Para isso, refere que «é preciso dar voz às experiências comunitárias dos jovens, porque é onde vivem a realidade e onde querem transformar. Na Cáritas, ou nos seus coletivos sociais, é importante que os jovens procurem e se organizem». Isto, no sentido de procurar a «formação integral dos jovens», à imagem do que já faz o escutismo.

Tudo isto e muito mais são coisas que não deixarão de estar no Documento Final, já conhecido em parte pelos jovens, que demonstraram todos muito cuidado em nada revelar. Leon garante que não houve «palavras proibidas de falar». «Falámos de todas as realidades juvenis, e o documento final vai apontar aí. São temas que falámos e que vão estar no documento final para que possamos aprofundar as realidades juvenis».

Os jovens estiveram nesta manhã a conhecer a proposta de Documento Final, e de tarde os pequenos grupos linguísticos irão debater alterações ao Documento Final, que será finalizado amanhã, sexta-feira, e apresentado para votação no sábado. «O documento está a ser aprovado por todos os jovens, não apenas por um grupo, em assembleia plenária. Não há formas perfeitas, mas é difícil encontrar um meio mais perfeito. As propostas foram feitas por eles, as expressões são deles, as palavras, as respostas, a síntese está a ser feita por eles. O documento que irá ser publicado sábado foi feito pelos jovens, desde a síntese inicial até ao documento final», assegura Javier Ayala.

Texto e fotografia de: Ricardo Perna.

A Flor de Lis está em Roma a acompanhar esta reunião pré-sinodal do Papa com jovens de todo o mundo. Acompanhe tudo nas redes sociais do CNE.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *


O período de verificação do reCAPTCHA expirou. Por favor recarregue a página.

Website protegido por reCAPTCHA. Aplica-se a Política de Privacidade e os Termos de Serviço da Google.

“Xico Maia”, partiu o nosso contador de histórias

Francisco Maia, carinhosamente conhecido como “Xico Maia”, partiu hoje para o eterno acampamento. Foi uma figura central no desenvolvimento do Corpo Nacional de Escutas (CNE) em Portugal. A sua dedicação ao Escutismo Católico Português é amplamente reconhecida e será sempre recordado como um exímio contador de histórias.

Flor de Lis
Visão geral de privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer-lhe a melhor experiência possível. As informações das cookies são armazenadas no seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você volta ao nosso site e ajudar a nossa equipa a entender quais as seções do site você considera mais interessantes e úteis.

Mais informações sobre nossa Política de Privacidade