Há de tudo um pouco, desde as visitas às casas das famílias para ver as lapinhas madeirenses, o fogo de artifício no fim do ano, a conhecida Noite do Mercado a 23 de dezembro e até as Missas do Parto que marcam o início do Natal Madeirense.
Estes festejos iniciam-se com as novenas do Menino Jesus, designadas localmente de Missas do Parto, e são realizadas em todas as paróquias do arquipélago tendo sido uma tradição introduzida pelos padres franciscanos aquando da sua ação pastoral nos primórdios do povoamento da ilha como forma de preparação para o Natal.
Este tempo de preparação para o Natal é também uma forma de devoção Mariana onde se comemora os nove meses de gravidez da Virgem Maria ou Nossa Senhora do Ó, popularmente conhecida como Virgem do Parto.
A 17 de dezembro, a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora do Ó que passou a ser assim denominada pelo povo por se proferirem, nas chamadas vésperas do Ofício Divino – de 17 a 24 de dezembro –, sete antífonas que começam pela interjeição exclamativa “Ó” como suspiro pela vinda do salvador do mundo. Neste sentido, uma antífona é um versículo cantado ou entoado na liturgia cristã que antecede e é repetido após a recitação de um salmo ou cântico religioso.
O povo madeirense interpretou que tal período celebrava também a gravidez da Virgem Maria sugerindo que o formato da letra “O” lembra os últimos tempos da gravidez da mulher. O antigo culto do Menino foi, assim, transferido para a sua Mãe passando a denominar-se Missas do Parto às Novenas do Menino Jesus ou Novenas do Natal.
Assim, desde a véspera da Festa da Nossa Senhora do Ó, a 16 de dezembro, até à véspera de Natal, a 24 de dezembro, celebram-se nove missas em honra da Virgem Maria sendo que cada missa corresponde a um mês de gravidez e simbolizam o parto divino que a Nossa Senhora terá.
As Missas do Parto são celebradas de madrugada, entre as 5h e as 7h da manhã, sobretudo nas igrejas das zonas rurais, por ser uma hora conveniente para os lavradores que começavam a trabalhar antes do nascer do sol.
No início do século XXI, após um período de crescente desmobilização, a tradição de celebrar a missa na alvorada foi recuperada correspondendo, assim, ao simbolismo de que o Menino Jesus é a luz que nasce para o mundo inteiro.
Apesar da hora matutina, estas têm muita participação. A ida para a igreja era muito animada nas diferentes localidades sendo feita em grupos formados por familiares, amigos e vizinhos sobretudo por se tratar de uma altura em que a utilização do automóvel não era frequente.
Os fiéis seguiam juntos a cantar, ao som de diversos instrumentos, entre os quais gaitas, flautas, rabecas, machetes, pandeiros e castanholas, tocando às campainhas e, na falta de instrumentos, as tampas das panelas também serviam para proporcionar um momento de grande folia e convívio. Por vezes, também ressoavam bombas, beijinhos e foguetes que começam a ser lançados nas Missas do Parto e só terminavam quando findava a quadra festiva depois do Ano Novo.
Durante a celebração religiosa, as igrejas estão repletas de pessoas que vão entoando cânticos próprios para a celebração sendo este um repertório de músicas e cantigas muito vasto, remontando alguns desses versos aos tempos do povoamento.
Terminada a celebração religiosa, a comunidade reúne-se no adro da igreja prolongando a celebração numa dimensão de carácter lúdica, sublinhando assim a ligação entre o religioso e o profano com um convívio onde não faltam bebidas quentes, licores, broas e outros doces e petiscos tradicionais desta quadra festiva. A música anima os presentes quer com os cantares de cariz popular ao som de instrumentos regionais quer ainda, em algumas localidades, com a presença de bandas de música ou filarmónicas.
As Missas do Parto terminam com a Missa do Galo, celebrada à meia-noite de 24 para 25 de dezembro. Esta simboliza o momento do nascimento de Jesus em Belém, representando a luz que entra no mundo, momento para o qual o povo madeirense se prepara ao longo das nove Missas do Parto.
E tu que tradições natalícias vives na tua localidade?