
Contingente português ao Moot 2025 realiza encontro na Batalha
O Contingente de Portugal da Federação Escutista de Portugal (FEP) ao Moot 2025 juntou-se de 25 a 27 de abril na Quinta do Escuteiro, na Batalha.
Formado em Psicologia e com um vasto conhecimento em informática, inteligência artificial e machine learning, Ricardo Luiz sempre procurou «perceber de máquinas e de pessoas». Foi escuteiro no Agr. 63 Graça e posteriormente Secretário Internacional Adjunto.
Flor de Lis (FL): Como surgiu o Escutismo na tua vida?
Ricardo Luiz (RL): Foi no ano em que eu ia fazer os 14 anos. Como já estava no ano de escola correspondente a Pioneiro, entrei logo na III. Com muita pena minha, não fiz nenhuma das outras secções. Tive a sorte de ir logo a um Jamboree Mundial no meu segundo ano de Pioneiro! Foi na Holanda, em 1994.
Fui escuteiro na Graça, no Agr. 63. Era um agrupamento muito pequenino. Mas tive uma experiência muito gira de Pioneiro. Basicamente 80% das nossas equipas eram colegas da mesma escola, da Gil Vicente, e depois havia dois ou três que eram de foram e se foram juntando ao grupo. E no final já tínhamos três equipas.
Eu saí na altura da passagem para Caminheiro. Foi na altura que entrei para a faculdade. Continuei a trabalhar noutras ONG e a fazer trabalho político – é engraçado porque me cruzava sistematicamente com colegas da AEP e do CNE no Conselho Nacional de Juventude, no Conselho Nacional de Educação e tudo mais.
E depois, em 2011 mais ou menos, uns antigos colegas começaram a dizer que a Graça estava a reabrir. «Era giro, pá, tu ias lá à Velada de Armas, às primeiras Promessas que vamos fazer…» Porque acho que o agrupamento tinha fechado, então estava em processo de reabrir. Então convidaram-me a mim e o meu melhor amigo para lá irmos, e obviamente que houve ali uma estratégia muito bem conseguida de marketing, porque nós estávamos com imensa vontade de voltar, mas não sabíamos… E voltámos. Fiz o meu processo de formação de Dirigente. Curiosamente, na altura, já estava a colaborar com uma equipa nacional quase como consultor, e assim que perceberam que eu tinha regressado ao Movimento fui captado também. Estava no 63 como Dirigente e fiquei logo na equipa do Joaquim na Secretaria Internacional. Assim que fiz a minha Promessa de Dirigente, fiquei como Secretário Internacional Adjunto um mandato inteiro.
No agrupamento fui sempre Tesoureiro e Chefe nas Secções, na I, na III… Depois, quando nasceu a minha primeira filha, disse logo que ia começar a ter menos tempo, e quando nasceu a minha segunda filha disse que já não podia ficar no agrupamento. Eu tinha um princípio de base desde o início que era assim: se eu saísse do agrupamento, sairia de todas as outras funções que tinha e não aceitaria convites nem regionais, nem nacionais, nem de núcleo. Então retirei-me de todas as atividades que fazia no CNE.
FL: Dos tempos de Pioneiro, que boas memórias é que tens?
RL: Claramente a memória “cereja no topo do bolo” é o Jamboree Mundial. Quando tu tens quase 15 anos e vais de repente para um sítio com 60 mil pessoas de cento e tal países diferentes e experimentas isso tudo, percebes que a dimensão do Escutismo é muito para além daquilo que tu experiencias no teu agrupamento. Quando tens um São Jorge e vês um distrito inteiro reunido e são 5 mil pessoas, já pensas «OK, isto já tem uma dimensão diferente». Mas de repente passámos desse nível. Nós na Graça nunca íamos a regionais, nunca íamos a nacionais; fomos da experiência de um São Jorge para um Jamboree. Afinal, há muito mais gente, mesmo muita gente diferente, mas que tem um ideal e uma série de princípios muito semelhantes, embora não sendo da mesma religião nem falando a mesma língua.
A segunda memória é da minha última grande atividade como Pioneiro, com os meus colegas todos da escola, que eram também meus colegas Pioneiros. Fizemos uma atividade de volante no Parque do Montezinho, entre Bragança e Rio de Onor. Foram sete ou oito dias em que andávamos com a mochila às costas e fomos desde Rio de Onor até Bragança. Fomos acampando, passámos por França, que é uma aldeiazinha perto de Bragança, fizemos uma série de atividades nesse percurso. Para a altura era uma autonomia e uma responsabilidade muito grande. E acho que estivemos à altura do desafio e fizemos um trabalho espetacular. E aliás, toda a gente que participou nessa atividade – e agora já lá vão quase 30 anos – se lembra e fala dela. Uma grande aventura.
FL: E como tem sido o teu percurso profissional?
RL: Eu tenho uma formação académica um bocadinho mista, mas que me facilitou a entrada naquela que foi a minha área de trabalho e que realmente é aquela que é a minha paixão. Eu comecei no Técnico, em Engenharia Informática, mas depois mudei para Psicologia, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, e a minha área era neurociência cognitiva. Portanto, eu já percebia de máquinas e de programação, só que queria perceber mais de pessoas para depois voltar ao Técnico para fazer o mestrado em Inteligência Artificial. E isto em 1997. Não era bem a inteligência artificial que é hoje, mas esse era o meu plano secreto. Só que quando acabei o curso de Psicologia, quando estava no estágio final, a minha orientadora disse-me: «Eu tenho um amigo que precisa de alguém esquisito como tu para que perceba tecnologia e perceba de pessoas.» E eu: «OK, sou eu.»
Então entrei numa empresa chamada Ydreams. Estamos a falar de 2005 ou 2006, e eu estava a fazer realidade aumentada, realidade virtual, robótica, experiências interativas, coisas muito fora da caixa para a altura, que mesmo hoje em dia, vinte anos depois, ainda não se vê muito. Fala-se algumas vezes de realidade aumentada, fala-se muitas vezes de realidade virtual, mas ainda não se vê essas tecnologias em coisas massificadas. E eu farto-me de rir quando se fala de realidade aumentada. Eu já brincava com isso há vinte anos. Fazíamos coisas para a NBA, para a L’Oreal, e foi uma experiência muito boa. Foram seis anos que estive lá, e basicamente viajei pelo mundo inteiro. Fui à China, fui aos Estados Unidos, fui ao Brasil, fui ao Golfo, fui à África do Sul, fui a uma série de sítios, porque nós tínhamos clientes internacionais. Eu comecei por trabalhar a experiência e depois passei para gestão de projetos. Depois dessa empresa, fui fazendo o meu percurso, sempre a liderar equipas de UX/UI, de desenvolvimento de experiência e de experiência de utilizador.
Há cerca de nove anos, fiz a transição para produto. Agora, o que eu faço é em unicórnios, em early stage scale ups, startups de tecnologia, aquilo que se chama SaaS B2B, que é software as a service para enterprise, essencialmente. Portanto, eu faço a parte mais feia, que ninguém gosta tanto, que é trabalhar para empresas mesmo. Por isso, tenho estas duas responsabilidades de pensar para a empresa e depois pensar para o consumidor final também.
Neste momento, sou consultor de produto, sou advisor também numa startup, sou mentor na Unicorn Factory de Lisboa, na área de produto, e eu ainda dou formação também na área da inteligência artificial. Em duas das últimas empresas onde trabalhei fiz muito machine learning, neurolinguistic programming e tudo mais de inteligência artificial. Na última fazia computação visual, portanto, inteligência artificial aplicada a tudo o que é imagem, imagiologia aplicada ao campo da saúde. Imagina, fazer a previsão de onde é que se põe o implante de um dente, qual é o aspeto correto do dente, sem ter de fazer moldes muito agressivos. É baseado numa imagem 360 do nosso maxilar e nós fazíamos os algoritmos que permitiam o laboratório perceber que tipo de dente é que tinha de fazer, onde é que ia pôr o dente, como é que o dente casava com os outros dentes e tudo mais.
FL: Estás numa área completamente mergulhada no digital. Mesmo assim, consegues levar o Escutismo na pasta para o trabalho?
RL: Claramente, em termos de princípios, são coisas que ficam connosco, e que ficam connosco a vida toda. Porque é que ao fim de seis meses de começar o meu primeiro trabalho já estava a liderar uma equipa de cinco pessoas? Provavelmente porque já vinha com alguma escola de Escutismo, da ONG onde eu estava, de ter sido dirigente associativo a minha vida académica toda, porque eu fui presidente da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia, fiz parte do Senado, estive no Conselho Nacional de Juventude… Isso, claramente, é algo que eu explorei inicialmente nos escuteiros e que me ajudou a ganhar a confiança para estar à vontade.
E depois, também levo a componente prática, de acreditar muito no trabalho de equipa, perceber como é que eu incluo os outros nas tarefas e motivar os outros para os desafios que nós temos em cima da mesa. Por exemplo, nos onboardings, eu acredito muito no “aprender fazendo”. Nos onboardings das pessoas da minha equipa, elas vão fazendo shadowing e depois desempenham as tarefas comigo a dar apoio. É muito daquilo que nós acabamos por aprender quando fazemos as formações de Dirigente, as ausências pedagógicas. Essas questões todas que nós aprendemos são muito transponíveis para o meio empresarial. Aliás, muitos dos princípios vieram das organizações para os escuteiros.
Também continuo a gostar muito de, com as minhas filhas, ir para a natureza, ir ao ar livre e brincarmos um bocado. É uma marca que fica de contacto com a natureza e uma outra forma de encarar as coisas.
FL: Achas que pode haver alguma ligação positiva entre o Escutismo e a inteligência artificial? Podemo-nos adaptar de alguma forma?
RL: Sem dúvida. A sociedade vai mudar. E está sempre a mudança, é uma coisa dinâmica. Nós não podemos querer que os miúdos aprendam hoje como aprendiam em 1923. É impossível, não dá. A sociedade tem muito mais estímulos, tem uma organização diferente, tem uma estrutura familiar diferente também, tem uma estrutura de valores também diferente. E o Escutismo tem um papel muito importante a desempenhar nessa questão, porque de repente pode ser um dos pilares estruturais de valores.
A questão da inteligência artificial pode ser usada aqui para várias coisas. Por exemplo, nós podemos utilizar componentes da inteligência artificial para facilitar processos para as pessoas que não estão tão à vontade com uma série de atividades. Eu via, quando fui Dirigente, a carga logística e administrativa que nós tínhamos. É horrível. É completamente absorvente. Quando nós devíamos estar mais focados em dar o nosso tempo às atividades que fazemos com os miúdos, há uma componente administrativa que consome bastante tempo, e às vezes tira muita energia que as pessoas podiam gastar em estar efetivamente a fazer atividades com os elementos. A inteligência artificial pode ajudar 300% nisso. Nós podemos de repente criar sistemas e automações que facilitam muito as vidas das pessoas que estão nos agrupamentos, porque tornam a parte logística e a parte administrativa muito mais fácil. Imagina, tu de repente já não precisas de estar a escrever as atas das reuniões. Tu podes fazer transcrições e resumos com a inteligência artificial, e poupas muitas horas durante o ano. São horas que podes usar para fazer planeamento e atividades efetivamente com os miúdos, e tempo que não estás a consumir, por exemplo, da tua vida profissional ou familiar.
A outra vantagem que vejo é que nós ainda temos uma forma muito estática de passar os conhecimentos mais teóricos aos miúdos. Por exemplo, ainda usamos muito os livros como base de suporte – que eu acho fantástico, adoro livros. Mas efetivamente nós temos de mudar o meio como comunicamos com os miúdos. Portanto, como é que tu produzes conteúdo? Como é que tu ajudas os agrupamentos a produzirem conteúdo mais local para motivarem, para chamarem os miúdos que estão ali nas suas zonas para participarem nas atividades? Nós não vamos conseguir ter um User Content Generated Manager em cada agrupamento para ter de repente uma presença nas redes sociais em que todos os miúdos ali à volta sabem onde é que está o agrupamento e as atividades fixes que eles fazem e tudo mais. Isso é uma coisa que se nós montarmos alguma estrutura a nível nacional, conseguimos fazê-lo. Depois é só replicar e passar a todos com agentes de inteligência artificial que possam permitir a um Dirigente que não percebe nada de inteligência artificial tirar umas fotografias durante as atividades, pôr naquela plataforma e a plataforma de repente desenvolve um vídeo engraçado, uns textos… E de repente ele já tem conteúdo para meter nas redes sociais do agrupamento. E, aliás, até já não se sente inibido em terem redes sociais no agrupamento porque já percebe que aquilo é fácil e que pode usufruir.
É uma coisa que realmente nós temos de trabalhar com o Movimento: mudar, flexibilizar e agilizar. Não faz sentido no século XXI, com toda a tecnologia que temos ao dispor… E eu sou muito sensível a isso, que eu fico «Aaaah, mas isto podia ser tão mais fácil! Ai, se me deixassem mexer nisto…»
E depois também há a questão da interação, do que vai para além da interação física, one-on-one, com os nossos miúdos. Há todo um mundo que podemos aproveitar para conteúdo. O que nós temos é muito estático, muito escrito, muito de desenhos e tudo mais. De repente, conseguimos pegar nisso e fazer vídeos sem grande custo, e nem precisas de ser muito técnico. Podes até ter, se calhar, um agente de inteligência artificial que ajuda os Dirigentes a aprenderem coisas que precisam de aprender para depois ensinarem aos miúdos.
Eu tentei desenvolver uma mobile app para a questão das competências e especialidades, para os miúdos. Fiz uma protoaplicação para os meus miúdos do agrupamento. Aliás, fiz todo um manual de Lobito porque olhei para o que tínhamos e pensei: «Epa, isto não serve.» Então fiz mesmo um manual inteirinho, de raiz, com uma série de coisas: com as competências, com as etapas, com tudo o que precisavam de aprender. E foi distribuído aqui em Lisboa para vários agrupamentos. Acho que ainda hoje alguns agrupamentos usam partes daquele manual que eu fiz. E eu penso: «Isto pode estar no telemóvel.»
Também há aqui um equilíbrio, porque não podemos transformar tudo em digital. Mas acho que esta componente digital pode ser muito benéfica para ajudar os miúdos num meio a que eles já inevitavelmente estão expostos. Porque não o CNE ter uma presença muito mais forte na produção de conteúdo nos canais de miúdos? Toda a gente gosta daqueles vídeos do “como é que se faz”. Se de repente começasses a fazer conteúdos, mesmo que sejam assistidos por inteligência artificial para cortar nos sítios certos e tudo mais, e mostrar este tipo de coisas – montar campo, montar uma mesa, fazer uma estrutura em suspenso para ter as tendas em altura, fazer pontes, baloiços, bancos – tu mostras aos miúdos uma outra componente que ninguém consegue transmitir.
É muito complicado tu dizeres o que é que é o Escutismo a alguém, principalmente a um miúdo, porque não são os princípios que o vão convencer, não é? OK, é ir para a Natureza, mas e depois? O que é que é diferente dentro da Natureza? E podemos claramente acelerar muito esta produção de conteúdos que precisamos. Eu acho quase criminoso o Movimento Escutista mundial como um todo não ter mais conteúdos e não ter mais presença nas redes sociais. Uma coisa que às vezes vejo em conversas com pais é que dizem que agora há aquela experiência espetacular da escola na floresta… E eu fico assim: «Sim… Eu sei… É o que fazemos nos escuteiros…»
Às vezes, também oiço críticas de que o Escutismo já não é o que era, porque agora é muito sério e tratamos os miúdos de forma muito infantil, não fazemos tantas coisas com os miúdos. Mas também há o outro lado, porque é muito difícil fazer atividades, há muita burocracia. É muito intenso. Quando era a altura dos censos, eu tinha a sensação de que durante duas semanas tinha um part-time que era quase um full-time, além do meu trabalho. Se eu tivesse uma ajuda qualquer em que pudesse só depois validar que estava tudo bem, tornavam-se operações muito mais simples. Até mesmo para quem geria as secções, de repente tu libertas tempo e energia.
E depois tens coisas mais simples, que é ter bots de interação com os pais e podes tornar uma série de questões mais acessível. Há uma coisa que se chama Augmentation. Tu tens um repositório de conhecimento muito específico e depois tens um LLM para te dar respostas baseadas naquele repositório de conhecimento que tu tens. Imagina poderes fazer isto no acervo do CNE. Ficas com uma base de consulta muito rápida, que te permite ter na ponta dos dedos acesso a informação histórica. Quantas atividades se fizeram num sítio específico? Está tudo ali. Os pais podem esclarecer coisas muito simples do Movimento. Podem fazer as mil perguntas que têm. Imagina poderes ter uma primeira camada de almofada antes de recorrerem aos Dirigentes, para nós nos podermos focar na parte relacional.
Nós acabamos por ter um papel na comunidade que eu acho que é o mais importante. Eu vejo isto nos meus meninos que, enfim, alguns já são Dirigentes. Ainda no outro dia me convidaram para o Cenáculo do Oriental. Fui lá falar sobre finanças pessoais. E uma coisa que ficou muito evidente foi o carinho que existia entre nós, que é uma coisa que não se consegue se tu não investires realmente na relação que tens com os miúdos e com os pais dos miúdos. De vez em quando encontro pais aqui na Alameda e fazem perguntas. E eu faço perguntas. Eu já não estou com eles há sete ou oito anos. É muito giro ver esta relação que fica. E acho que aqui a inteligência artificial pode ajudar, porque é libertar tempo e é libertar-nos de tarefas que não são necessariamente superimportantes.
E depois, pode-nos ajudar a capacitar-nos com uma série de ferramentas e de conhecimento que nós não temos, ou que nós não estamos tão à vontade. Imagina, tens dez pessoas na região que fazem cartas topográficas, desenvolvimento de atividades, de raides, construções, nós, amarrações e tudo mais. Se de repente consegues capitalizar isso e gerar uma ferramenta de treino mais disponível para todos os outros Dirigentes, é muito mais fácil do que estarmos sempre a marcar formações, que às vezes nem há ou só há dois em dois anos. E o pessoal precisa daquilo para ganhar as suas contas e ir progredindo na sua formação. Nós podemos agilizar tudo isso.
FL: Uma das grandes críticas que há na questão de adaptar o Escutismo ao digital é que perdemos a nossa essência. Pelo contrário, achas que chegamos mais facilmente ao essencial do Escutismo com a ajuda do digital?
RL: Acho que as duas coisas são superimportantes porque o Movimento tem de tomar uma decisão muito séria nos próximos anos. Quer continuar com um culto ou quer ser uma coisa mais aberta à sociedade? É uma decisão. E as duas são válidas. Mas se quisermos continuar a ser uma coisa muito fechada, a basearmo-nos no que se fazia há cento e tal de anos, vamos ser uma coisa cada vez mais de nicho e quase um culto.
Se nos quisermos abrir e também fornecer este dom que temos ao resto da comunidade e ao resto da sociedade, não temos de transformar radicalmente aquilo que fazemos, mas sim perceber que há questões aqui que são absolutamente essenciais. E têm a ver com a presença, com o contato físico, com a experiência da Natureza de uma determinada forma, de formar princípios para as pessoas se desenvolverem – não é para sermos todos iguais, mas para termos aqueles pilares de referência na nossa vida. Agora, há outras formas de chegarmos lá que são complementares e que podem ser até mais interessantes para os miúdos perceberem.
Há coisas que não devemos perder, obviamente. Os miúdos não andarem com telemóveis o tempo todo nas atividades, não faz sentido nenhum. Portanto, temos de perceber aqui o essencial e o que é mais facultativo e que não tem interesse. Mas acho que há um misto que se pode fazer. Podemos perfeitamente tirar partido do digital e da tecnologia em abono do que é importante. Cada vez mais acho quase criminoso não termos mais presença, porque os princípios e atividades que temos no Escutismo ajudam a combater uma série de coisas que hoje em dia já identificamos. Temos a revolução digital e o choque de gerações… E o Escutismo ajuda nisto, porque permite que os miúdos tenham um espaço seguro para se desenvolverem, para experimentarem, para estarem com os outros e com a Natureza, que é uma coisa que não há assim tanto hoje em dia.
O digital pode ajudar-nos, não o acho um “bicho mau”. Tem muito a ver com o tipo de utilização que lhe damos, e nós podemos dar-lhe um uso absolutamente positivo sem nos tornarmos cem por cento digitais. Devemos ter uma componente digital, sim, e porquê? Para mostrar que estamos adaptados à realidade. Baden-Powell também não usava televisão. Pudera, não existia! Mas o Escutismo já usa. Usa vídeo há muito tempo. Baden-Powell também não usava sistemas de som para as suas atividades, e nós usamos de forma muito natural. A tecnologia está lá para nosso serviço. Quando nós percebemos que a evolução tecnológica traz ferramentas que nos podem capacitar, podemos escolher adaptar-nos, ou então recusar. Mas estava a ver no outro dia que até os Amish já usam veículos elétricos, ebikes, que é uma coisa impensável porque isto é uma comunidade superfechada mas que já se rendeu às evidências da tecnologia por razões práticas. Se nós vemos que um grupo muito fechado, muito contra, se começa a abrir porque percebe que não belisca os seus princípios, eu acho que o Escutismo tem muito a ganhar. Até porque no nosso core temos o sangue novo da sociedade, as gerações que daqui a vinte anos vão moldar o mundo. São eles os líderes de amanhã. Acho que devemos ser os fiéis depositários dos valores e dos princípios; tudo o que virmos que não belisca isso, acho que é válido adaptar. A tecnologia pode efetivamente levar-nos mais longe.
Entrevista: Catarina Valada.
Fotos: cedidas por Ricardo Luiz.
O Contingente de Portugal da Federação Escutista de Portugal (FEP) ao Moot 2025 juntou-se de 25 a 27 de abril na Quinta do Escuteiro, na Batalha.
Já saiu fumo branco da chaminé da Capela Sistina! O Cardeal Robert Prevost, Papa Leão XIV foi eleito hoje, 8 de maio, no segundo dia do conclave.
Está prestes a começar o Conclave que elegerá o sucessor do Papa Francisco, com a participação de quatro cardeais portugueses com direito a voto. Os trabalhos iniciam-se hoje, 7 de maio, no Vaticano.
O prazo para candidaturas à 12.ª edição da Portuguese Work Party (PWP) termina já na próxima quarta-feira, dia 7 de maio. A atividade irá decorrer em outubro, em Kandersteg.
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